Tag: podemos

  • O que é um centro social? Ou sobre a Ingobernable (artigo traduzido)

    \"\"


    Texto original em espanhol publicado em 10 de maio de 2017 aqui:
    http://ctxt.es/es/20170510/Firmas/12653/ingobernable-centro-social-okupas-patio-maravillas-carmena.htm

    Tradução: @_urucum em 11 de maio de 2017

    O que é um centro social? Ou sobre a Ingobernable
    Emmanuel Rodríguez [*]

    Desentulhar, varrer, esfregar… E assim até dar conta de todos os 3.000 metros quadrados do edifício \”Gobernador\” 39, situado em frente ao Jardim Botânico de Madrid, a meros 200 metros da estaçao Atocha. O edifício foi okupado no último 6 de maio, durante uma manifestação convocada com um lema enfático: \”Madrid não se vende\”.

    Desde então, o edifício, há tempos abandonado, tem sido povoado por toda classe de tribos, jovens, advogados, curiosos, ativistas, que circulam por todos os lados atarefados, apreensivos em limpar e tornar o mais apresentável o possível um espaço… gigantesco. Desde então, também, diversas associações e coletivos solicitam cantos para reuniões, oficinas, discussões sobre a situação internacional, sobre a soberania alimentar, espaços para organizar iniciativas que enfrentem o problema dos aluguéis da cidade, que crescem a um ritmo de dois dígitos. Inclusive, muitos dos representantes da nova política, em atitude valente, e sobretudo inteligente (é o caso de Pablo Iglesias e de Alberto Garzón) vem dado boas vindas ao novo espaço.

    Um centro social é uma instituição anômala. Funciona de acordo com lógicas que não estamos acostumados. A vida de um centro social é regulada pelos próprios participantes lá mesmo, sem a mediação de administrações públicas e tão pouco de empresas comerciais. A responsabilidade é coletiva, a atividade é coletiva, a administração é coletiva. Também por isso, muitos centros sociais são realidades extremamente vivas. E podem assegurar isso quem conheceu as distintas sedes do Patio Maravillas, ou previamente dos chamados Laboratorios. Espaços onde todas as semanas passavam literalmente milhares de pessoas para organizar atividades das mais variadas: desde batalhas de rap até bailes de salão, desde assembleias políticas até noites flamencas. Seu êxito reside no fato de que não havia falta de interesse e iniciativa para fazer uso dos espaços.

    Os centros sociais podem parecer anomalias, mas só desde uma perspectiva convencional atada ao que comunica o \”país oficial\”. Apenas na região de Madrid existem cerca de 60 espaços deste tipo. Há os grandes, a ponto de envolver boa parte da vida civil e política de alguns bairros, e há os pequeníssimos, de apenas algumas dezenas de metros, que se dedicam a uma só atividade. Há os alugados e há os ocupados. Há os metropolitanos, como La Ingobernable, empenhada em dar guarida para muitas atividades hoje dispersas pela cidade. E há os rurais, instalados em alguns pequenos povoados e direcionados a promover agroecologia e o consumo local. Na Espanha há mais de 600 centros sociais.

    Nos equivocaríamos, porém, se atribuíssimos esta realidade a uma condição particular ibérica. Se podem encontrar centros sociais em quase todas as grandes cidades europeias. Em Roma ou em Berlim são quase a única opção de ócio para aqueles jovens que não querem passar pela experiência embrutecedora da macro discotecas. Em Berlim, qualquer turista pode acabar em uma festa sob o ritmo de algum repetitivo som industrial, e poderá se surpreender ao saber que o espaço em que se divertiu a noite não era outro que não uma antiga okupa. Em muitas cidades alemãs e italianas os centros sociais são realidades tão comuns que as instituições estão acabando por reconhecê-las, estão deixando de incomodá-las.

    Poucas cidades estão sendo tão inteligentes, neste sentido, como a cidade de Nápoles. Alí, o prefeito, a pedido da maior parte dos movimentos sociais da cidade, está estabelecendo um estatuto particular para os centros sociais. Os espaços napolitanos estão sendo declarados comunes urbanos. Isto quer dizer, simplesmente, que a prefeitura as considera entidades legítimas; e, por sua vez, entidades que não são de sua competência.

    Um comum, um bem comunal, é um recurso que não é propriedade pública (do Estado), mas tão pouco uma propriedade privada. Um comum pertence a uma comunidade que gesta/gere o comum. Um centro social é assim um comum urbano, um espaço em que uma parte da cidadania decide tomar posse, gestionar/gerir diretamente e gerar riquezas que nenhum mercado e nenhuma burocracia seriam capazes de produzir. Curiosamente, essa riqueza, em forma de iniciativas, discussões, criatividade social e cultural, é o que constitui a base da democracia, ao menos quando entendemos que esta é algo mais do que partidos, voto e representação. Se a democracia é sobretudo a ativação cidadã e a participação sem mediações, os centros sociais são um recurso democrático inestimável.

    El Gobernador 39 é um caso exemplar da má gestão de bens públicos e, portanto, das potenciais vantagens de uma gestão comum. O edifício, propriedade da prefeitura, foi sede da UNED [Universidad Nacional de Educação a Distância], e em seguida centro de saúde, até que seus usuários foram transferidos para o bairro Vallecas. Pouco antes de deixar a prefeitura, Ana Botella cedeu o edifício ao arquiteto Emilio Ambasz. O contrato se realizou com legalidade duvidosa e por um periodo de 75 anos. Emilio recebeu a concessão através de sua própria fundação, cujo secretário entre 2008 e 2010 foi Miguel Ángel Cortes, ex secretário de Estado da Cultura e amigo íntimo da família Aznar [**]. Para ser exato, este “conseguidor” profissional acaba de ser marcado pelo fiasco de 28 milhões relacionados ao falido Museu de Arte Natural de Málaga.

    Diante de um PP [Partido Popular] desesperado com escândalos diários de corrupção, a prefeitura de Madrid governada por Manuela Carmena se vê em dúvidas sobre o que fazer com Gobernador 39. Mais uma vez se vê a beira de uma nova guerra cultural contra os aparatos midiáticos do PP, e lembra os tristes casos dos titiriteiros, os tuits de [Guillermo] Zapata ou os trajes dos Reis Magos [***]. Talvez ela pudesse ser aconselhada para neste caso deixar estar, deixar que La Ingobernable gere suas próprias simpatias e sua própria legitimidade. E que entenda que, sem centros sociais, como o Patio Maravillas, onde foi fermentado em grande medida a candidatura de Ahora Madrid, não há mudança.

    Seja como for, se Carmena ainda quiser disputar com o PP (se valendo de argumentos de seu próprio terreno, basta que investigue esse obscuro assunto da cessão do edifício a Emílio Ambasz. Também pode repetir o argumento liberal em relação a propriedade. Os liberais quando eram liberais, e não simples usurpadores de bens públicos, consideravam como valor último da propriedade a sua função social: a propriedade privada só se justifica em razão de sua capacidade de gerar riqueza. Por esse motivo, e em toda a Europa, as revoluções liberais lançaram ambiciosos processos de desamortização do que chamavam de bens em \”mãos mortas\”; terras da igreja e de povos cujo rendimento era considerado muito abaixo do que, ao menos em teoria, proprietários eficientes poderíam alcançar. O argumento dos liberais é um argumento de progresso, não um argumento legal. E com esse argumento ignoraram uma legalidade com vários séculos de história.

    Sobre os resultados da desamortização na Espanha, que muitas vezes produziu o oposto do que se pretendia, não cabe entrar agora. Porém, o argumento a favor de La Ingobernable é parecido. Manter a cessão fraudulenta a Emilio Ambasz ou, em outra direção, continuar a abdicar da administração do edifício e deixá-lo em \”mãos mortas\”. A propriedade comum de Gobernadora 39, o centro social La Ingobernable, é um bem que uma cidade como Madrid, assaltada por contínuos escândalos de corrupcão, não pode prescindir. Esse bem se chama democracia.

    Em grande parte da Europa já entenderam, espero que aqui também.

    Emmanuel Rodríguez – historiador, sociólogo e ensaista. É editor de Traficantes de Sueños e colaborador da Fundación de los Comunes. Seu último livro é \’¿Por qué fracasó la democracia en España? La Transición y el régimen de 1978\’

    ** José Maria Aznar é ex presidente da Espanha

    *** Titiriteros, Zapata, Reyes Magos, recentes \”guerras culturais\” da política madrilenha que se tornaram objeto de ataques conservadores ao governo municipalista, e não deixou de criar tensões internas na confluência de forças que possibilitaram a eleição da Manuela Carmena. Ver por exemplo: http://www.publico.es/culturas/cultura-sigue-siendo-problema.html

  • [ES] Emilio Delgado – Levantar la vista, caminar.

    Autor: Emilio Delgado

    Retirado de: https://m.facebook.com/notes/emilio-delgado/levantar-la-vista-caminar/1553675741608808

    Es difícil sentarse a escribir con la sensación de peso que nos achicó a todos la noche de ayer.
    El aprendizaje tiene un precio y nadie es capaz de avanzar sin pagarlo, aunque lo terrible de verdad sería pagar el precio sin obtener a cambio siquiera aprendizaje alguno.
    Por eso es imprescindible levantarse rápido, integrar lo sucedido como una experiencia más de nuestro camino y encarar el análisis de lo ocurrido con normalidad. Nada hay menos fecundo que la parálisis que instalan algunos golpes . Sólo trae más golpes.
    Debemos ser cuidadosos en el análisis y tratar con delicadeza a esta herramienta que construyeron millones de personas y que ha conseguido en muy poco tiempo cosas verdaderamente increíbles. Al mismo tiempo, necesitamos tener con honestidad, rigor y valentía un debate que permita responder a la siguiente pregunta: ¿Por qué Podemos se ha encontrado con un retroceso por primera vez en todos los procesos electorales realizados hasta la fecha?. Es de una importancia política de primer orden poder discutir de esto sin que ninguna apelación abstracta a los buenos sentimientos cancele esta discusión. Es obligado hacerlo como digo, con el máximo respeto.
    Como primera consideración personal, me parece evidente que las tesis que advertían que en política 5 + 1 no tienen por qué ser 6, han resultado correctas. No sólo no se suman los votos de Podemos e IU en las pasadas elecciones de Diciembre sino que tenemos 1.248.000 votos menos. Además, en este momento tanto la financiación como el número de Diputados no van directamente a Podemos sino que se comparten con IU.
    De esto, no cabe responsabilizar a IU. Ni es moralmente aceptable ni es políticamente honesto. Esta formación se ha limitado a ser ella misma, con su discurso, sus eslóganes y banderas. Somos nosotros quienes hemos abierto las puertas a una confluencia en la que Podemos se ha visto más influido por IU que a la inversa. Aclaro algo en lo que insistí en el pasado: No se trata de elegir entre confluencia si o confluencia no, sino cómo, dónde y para qué.
    Lo que acordamos de cara al 26J fue una coalición meramente instrumental, entendiendo que éramos organizaciones distintas que en una situación de emergencia social concurrían juntas a unas elecciones de forma puntual. Sin embargo, no sólo en esta campaña sino en los meses que van de Diciembre a Junio hemos ido perdiendo transversalidad, capacidad de hablar al país diverso y variado que vivimos. Hemos dado bandazos que unas veces alejaban a un electorado procedente del PSOE al que no le pusimos fácil acercarse, para poco después hacer justo lo contrario. La incorporación de mensajes, perfiles, y apelaciones a una izquierda no compartida por muchas personas que sí se sentían incluidas en una propuesta política derivada del 15M que cambiaba los paradigmas políticos apostando por reordenar el juego entre los de arriba y los de abajo, entre la mayoría y las élites y que apelaba más a construir pueblo que a reconstruir la izquierda.
    La expresión plástica de esto la pudimos ver la noche electoral en el Reina Sofía: Más banderas, pero menos gente. Menos Vetusta Morla, más cánticos revolucionarios de los 70. Una involución en nuestra invitación política a las mayorías del país que ha resultado ser un freno para el cambio. En un momento en el que el adversario lo apuesta todo al miedo, creo que estos elementos han jugado un papel importante a la hora de confirmar reticencias de muchas personas indecisas.
    Aquí, están de más las lecturas moralistas que culpabilizan a la gente por no saber votar o interpretar políticamente a su país. Quienes se equivocan, siempre, son quienes ponen sobre la mesa propuestas políticas que se desentienden de la materia humana y las características de la población sobre la que trabajan.
    En segundo lugar, hay quien ha salido con la misma y abstracta declaración de siempre, la que sostienen pase lo que pase e independientemente de las circunstancias, que lo que falta es “calle”, “lucha” y “movilización”. Supongo que entienden que los resultados del resto de partidos se han conseguido con estos ingredientes. En cualquier caso, habría que entrar a fondo en este asunto pues no creo que sea una buena idea oponer “movilización” a “discurso”. Si por movilización se entiende la construcción de pueblo; la fundación de periódicos, asociaciones deportivas, sedes, instrumentos de intervención social, entonces nada que objetar. Hay que avanzar en ese camino.
    Si por el contrario, la propuesta nos invita a repetir los manidos escenarios de manifestaciones con muchas pegatinas, gritos y pancartas en las que encuentren refugio los náufragos de las identidades políticas del siglo XX, francamente creo que se equivocan y su solución forma parte del problema. Aun aceptando que quienes defienden esta tesis estén pensando en la primera opción y no en la segunda, que es mucho aceptar, la explicación se me antoja escasa, pues en condiciones similares concurrimos el 20-D en solitario y tuvimos mejores resultados.
    Por último, Podemos inicia su camino como una maquinaria maravillosa llena de inteligencias diversas y canales variados por los que expresarla. Con una gran capacidad de escucha. Una actualización imprescindible de las viejas maquinarias de los partidos oxidados.
    Sin embargo, creo que estamos perdiendo capacidad de aprovechar esas fuerzas creadoras, se instalan dinámicas en las que el buen trabajo no encuentra cauce porque las posiciones ya han sido ocupadas por la lealtad muchas veces acrítica y estéril.
    Así, he visto alejarse a muchas personas sin cuya valía no soy capaz de imaginar el rumbo de este proyecto, desplazadas y desconocidas para la gran mayoría de la gente, mientras se estrechaba el campo de trabajo y los espacios de expresión de sus capacidades. Impedir el desperdicio de talento es una ambición de cara a nuestro país, necesitamos de vuelta toda la inteligencia colectiva que se vio obligada a marcharse, pero es fundamental que también esto suceda en el interior de nuestra organización.
    Necesitamos tener este debate de forma organizada, con la libertad y la responsabilidad para hacer colectivamente lo que hacemos cada uno de nosotros en privado: Aprender cuando nos equivocamos de camino y tener la sensatez de corregir el rumbo con naturalidad.
    Hay un país que ganar y no vamos a regalarlo. Tenemos la militancia más maravillosa que pueda desearse y algunas de las cabezas mejor amuebladas de la historia reciente del país. No podemos repetir errores pasados que hipotequen el sueño de cambiarlo todo, la tarea hermosa de dejar a quienes vengan un país mejor. A levantar la vista, a caminar. Emilio Delgado Orgaz. 27/06/2016