Tag: movimentos sociais

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    É curioso como neste novo momento de crise, entramos em contato com as memórias de outros períodos críticos da história. Diante de algumas situações nos últimos meses, tenho uma estranha sensação de que estamos passando por um novo giro na história, e como numa espiral algumas coisas parecem uma repetição. Porém, já estamos noutro lugar, tudo é diferente.

    Nessas rememorações tenho pensado muito do final dos anos 90. Governos neoliberais e suas políticas avançavam em toda parte, mas encontravam alguma resistência social. Quem se lembra das lutas contra a ALCA? Dos primeiros Forum Sociais Mundiais (antes de se tornarem uma grande feira)? Dos diversos movimentos sociais que se multiplicavam Brasil afora…Onde foi parar toda aquela energia?

    Naquele momento, a memória da derrocada da experiência soviética ainda era um tema na pauta, fala-se muito de crise sistêmica do capitalismo e proliferavam em toda parte iniciativas de economia social, autogestão econômica, cooperativismo, entre outras. Havia todo um debate sobre alternativas práticas ao capitalismo que curiosamente parece que perderam a força diante de governos que em toda America Latina executaram uma agenda paradoxalmente \”progressista\” (péssimo termo). Porém, ainda que silenciosamente, tudo aquilo segue sendo feito.

    Dentre esses reencontros que tive nos ultimos meses, um deles é com as discussões sobre autogestão, economia social/solidária, moedas alternativas. Tema com o qual estive muito envolvido e que por diversas razões fui me distanciando. Acho curioso ver como ele retorna agora. Seria apenas mais um sintoma da crise? E para mim, é aqui que este reencontro dá uma reviravolta interessante pois se recombina com outros temas com os quais estou envolvido hoje em dia. Mas o vocabulário agora é outro. Falamos em soberania tecnológica, produção do comum, tecnopolíticas, ecologia de práticas e saberes…

    Só para citar um exemplo. Recentemente, comecei a acompanhar a criação de um nó-regional da FairCoop (https://fair.coop). A discussão que eles fazem sobre moedas alternativas é bem interessante. Utilizam uma criptomoeda inspirada no bitcoin porém modificada por protocolos sociais que inserem a colaboração como variável na geração de valor. Há toda uma discussão ali sobre autonomia, autogestão, desenvolvimento local/comunitário, sustentabilidade, internacionalismo.

    Em seguida, vou atrás de alguns sites antigos e redes sociais abandonadas. Numa deriva no ciberespaço, como nos tempos em que a livre navegação era possível (quem se lembra que utilizavamos o termo \”navegar\” e éramos internautas, antes de virarmos usuários), encontro alguns grupos interessantes, como o bom e velho Znet (https://zcomm.org). Que emoção! Site simples, wordpress com cara de puro html.

    Fiquei me perguntando, será que os outros grupos ainda estão por aí? Os meios  de comunicação entre os movimentos que pegaram o início da internet transformaram-se drasticamente nesses ultimos 10 anos (o Youtube é de 2006!). Tivemos um processo paradoxal. De um lado a mulitiplicação dos canais (email, redes sociais, sms, whatsapp, telegram, e em cada um deles grupos e subgrupos) dando a impressão que construíamos um rizoma, com arquitetura distribuída. Mas não, era pura dispersão. De outro, novas camadas de hierarquização e centralização que modulam algoritmicamente toda nossa interação, submetida a critérios mercantis e à vigilância estatal e corporativa. É o capitalismo de vigilância (Shoshana Zuboff); a sociedade de controle (Deleuze)….enfim, formas renovadas de sujeição social e servidão maquínica.

    Ao invés de nos organizarmos de maneira distribuída, somos organizados em nossa aparente dispersão pela capacidade de centralização desses serviços. É incrível como o Facebook destrui nosso ecossistema digital. Pra ser sintético: o Facebook e todos os condomínios digitais correlatos, destruiram a internet como uma possível cidade cosmopolita. Essas corporações são hoje parte do nosso problema.

    Por fim, neste pequeno passeio fui me dando conta de tantas coisas, de tantos mundos que foram ficando para trás. Tal sensação é reforçada por todos os acontecimentos políticos de 2016 (golpe parlamentar etc), que de maneira muito direta chamaram nossa atenção para transformações profundas que estão ocorrendo em nossas sociedades muito abaixo do nosso radar. A barbárie é só o cotidiano mesmo. Mas é ai tambem que surgem as criações e as longas ondas com grande capacidade de propagação. Nos ultimos tempos, apenas ficou mais visível uma nova e assustadora topografia que estava sendo lentamente construída.

    Isso me faz pensar na cozinha, no trabalho de manutenção e sustentação da vida. Talvez, a tecnologia mais necessária neste momento seja mesmo as tecnologias organizacionais e toda a lentidão necessária para fazer comunidade, para produzir o comum em comum. Mas não o antigo comunitarismo, nem os comunismos e socialismos. Serão outras criações capazes de aprender com todas essas formas, e também com o capitalismo.

    Fico com uma sensação de \”back to basic\”. Não confundir com \”um retorno às bases\”. É outra coisa, é cuidar do básico mesmo, a começar pela capacidade do encontro com o outro. Quais são as infraestruturas que precisamos para dar suporte às formas de vida que desejamos?

    fonte do artigo: http://prototype.pimentalab.net/?p=187

  • Organizando pra desorganizar pela Ação Direta

    Um relato e análise do ato contra a PEC de 29/11/2016

    por Nigganark

    “Posso sair daqui para me organizar;
    Posso sair daqui para desorganizar”
    Chico Science, Da Lama ao Caos

    Quem não se organiza será organizado por outros. Se um grupo não se organizar e lutar para gerir sua vida, comunidade, sociedade, será organizado por outros setores que definirão os seus rumos, horizontes e perspectivas. É mais ou menos isso que o anarquista e revolucionário Errico Malatesta disse em um famoso texto chamado “A Organização das Massas Operárias Contra o Governo e os Patrões”, de 1897. Como atualmente estamos em tempos de retrocessos políticos, intuo que esta afirmação é mais atual do que nunca: não temos decisões efetivas sobre a forma e conteúdo de nosso trabalho; nossa alimentação é toda pré-definida por interesses do agronegócio; nossa educação é determinada por interesses capitalistas e coloniais, com uma pedagogia autoritária; nossa saúde é destroçada por um ritmo de sociedade que não escolhemos e nosso tratamento é hierarquicamente decidido por uma medicina que, quando nos atende, nos enche de químicos que não compreendemos bem; mesmo nossos desejos, gostos, sexualidades são definidos por interesses de cima – e a quem disso divergir está destinada uma bela repressão.

    Esta organização da sociedade nos prejudica coletivamente; trás privilégios, riquezas e pleno gozo a uma parcela mínima dos bilhões de humanos habitantes do globo. Menos de um por cento. Há muito tempo as coisas estão organizadas assim. Mas há muito tempo também há luta e mecanismos de resistência. A Ação Direta, por exemplo, é um princípio revolucionário – herdeiro principalmente do movimento operário anarquista – que foi constituído como forma direta e imediata de simultaneamente resistir e atacar esta organização social; de fazer da destruição um ato criador.

    Falo da Ação Direta porque no ciclo de mobilizações contra a recentemente aprovada Proposta de Emenda Constitucional do teto de gastos (PEC 241/55) ela foi utilizada como principal metodologia de luta: seja nas ocupações de escolas/universidades, nos atos de rua, nos ensejos de organização democrática e participativa. Falo também porque a Ação Direta nos trouxe algumas lições durante o ato contra a votação final da PEC da morte (outro nome carinhoso para esta medida ridícula) , ocorrido em Brasília no dia 13/12/2016. Gostaria de pedir, sabendo das dificuldades de ler longos textos presentes em nosso tempo, que você me acompanhe neste logo texto. Talvez ele contribua para a nossa reflexão.

    Vamo que vamo.

    * Entreatos: da baderna do 29/11 à preparação do 13/12

    As manifestações do dia 29/11 referentes à votação do primeiro turno da PEC 55 no senado tiveram enorme repercussão. Tanto as cenas da repressão policial como, principalmente, a das táticas de resistência empregadas por determinados grupos presentes no ato abriram um amplo leque de análises. Por um lado, o conjunto das avaliações da esquerda foram consensualmente críticas e de alerta à violência estatal generalizada contra manifestantes. Por outro lado, as análises sobre a composição e forma da manifestação foram mais diversas e críticas em relação aos métodos empregados pelos agentes em luta. Defensores e críticos do método da ação direta tiveram um duradouro embate sobre qual o significado do ocorrido, protagonizando uma real \”disputa de narrativas\”. O debate girou em falso sobre a mítica figura dos \”infiltrados\” – se eles existiram ou não, foram protagonistas ou mesmo desencadearam todo o clima de repressão. As diferentes posições sobre infiltração derivavam das diferentes concepções sobre ação direta.

    A mídia hegemônica, como tradicional, criminalizou as manifestações. Houve uma ação de \”reparo\” às pichações contra a PEC que estavam no Museu Nacional de Brasília, capitaneada por grupos conservadores da cidade. As repercussões institucionais também foram relevantes. Tanto no plano federal como no governo local diversas reuniões e procedimentos ocorreram para dar resposta do estado ao ocorrido no dia 29/11. Obviamente, nenhuma movimentação foi no sentido de apurar abusos, violações de direitos humanos ou truculências. O problema que esquentava na mesa dos gestores estatais era de que aquela mobilização, mais do que demonstrar a força policial, abriu dúvidas sobre a capacidade do estado manter a ordem em manifestações radicalizadas. Havia muito medo sobre o que poderia ocorrer na iminente manifestação contra a PEC 55 que ocorreria na data do segundo turno da votação da proposta. Era necessário, assim, uma resposta incisiva e definitiva da capacidade de controle.

    Por outro lado, para o conjunto dos participantes da manifestação, igualmente, as lições de uma polícia simultaneamente violenta e organizada; que age de forma incisiva e quase letal; que demonstra algum planejamento bem como determinação em desestruturar totalmente as táticas de manifestação também foram sentidas. Muitas avaliações projetaram sobre como teria sido o ato de 29/11 caso muitas pessoas estivessem de fato preparadas para o embate – não apenas nas intenções, mas nas ferramentas e organização. Cogitava-se inclusive que com uma tática melhor preparada poder-se-ia ter mudado os rumos da maldita aprovação da PEC 55. A vexatória e esdrúxula performance do senador petista Jorge Viana – quando houve possibilidade de assumir a presidência do Senado e barrar a votação da PEC 55 – foi como um ultimato da chance de, por meio das instituições, conquistar alguma mudança nesta conjuntura sombria de aprofundamento neoliberal. Após um ministro do Supremo Tribunal Federal determinar afastamento do presidente do senado Renan Calheiros, o senador petista poderia assumir a presidência da casa e postergar a data da votação para o próximo ano, dando um fôlego aos movimentos sociais em luta. Preferiu, ao contrário, se acovardar ao enfrentamento e inclusive atuar para que o STF revertesse a decisão anteriormente tomada. Ou seja, deu de ombros à luta e abraçou a ordem estabelecida. A sensação a quem lutava era: ou éramos nós por nós ou nada.
    * Preparação, indefinição e tensão
    Se no dia 29/11 os chamados foram difusos, simultâneos e realizados por diferentes coletivos, para o dia 13/12 os chamados foram muito mais esparsos. Até alguns dias antes do segundo turno da votação da PEC pouco se sabia sobre a realização ou não de um ato. Comentava-se que as entidades haviam gasto muito dinheiro na manifestação anterior, sem capacidade de reposição com a mesma monta; que outras entidades não queriam apoiar as mobilizações por receio de que ela saísse do controle novamente. Simultaneamente havia notícias da constituição de atos locais simultâneos em diferentes cidades esvaziando um possível ato central na Esplanada dos ministérios.

    Esta indecisão sobre a mobilização colocava à vista os próprios conflitos internos dos setores da luta. Por exemplo: ao contrário do que se supõe acerca de uma avassaladora hegemonia burocrática nas lutas sindicais, há um crescente setor independente, autônomo, classista que realiza lutas sindicais e disputas internas. Este setor tem conquistado espaço junto a algumas direções de sindicatos e, principalmente, constituiu – por meio das greves e piquetes – um foco de ação classista em oposição à política de austeridade. Sua intervenção nos Comandos de Greve – especialmente do campo da educação – forjou o contraponto sindical à criminalização (realizada pelas centrais sindicais) da ação direta de 29/11 e o impulso para a realização de uma nova mobilização em Brasília no dia 13/12.

    Assim, o bloco inicial que constituiu a mobilização para os segundo turno da PEC 55 foi este setor que denominarei aqui como o Setor de Ação Direta: sindicalismo classista e movimento das ocupas estudantis. Em quantidade bem menor que no ato anterior, porém ainda significativa, ônibus de diferentes cidades vieram para Brasília para realizar a mobilização. Os financiamentos foram mais diversos, em algumas localidades manteve-se a articulação com direções sindicais tradicionais locais e, em outras, formas alternativas foram utilizadas para viabilizar o recurso: houve caravanas financiadas por rifas, pedágios e festas(!). A Frente Povo Sem Medo adotou a tática de realizar manifestações locais, mobilizando suas bases locais para a manifestação em Brasília. O Sindicalismo Tradicional oscilou entre mobilizar as categorias e participar de algumas articulações anteriores, mas sem destinar força real à mobilização.

    Ao contrário da mobilização passada, ocorreram algumas reuniões de articulação do ato envolvendo participantes dos três setores principais da mobilização (Frente Povo Sem Medo, Frente Brasil Popular, Setor de Ação Direta). Além disso, plenárias internas anteriores foram realizadas pelos distintos grupos, planejando formas de ação na Esplanada durante o ato. Alguns militantes estudantis de outras cidades haviam ficado em Brasília no período entre as duas manifestações na intenção de articular melhor um segundo ato, fazendo a conexão estudantil nacional e também a articulação com outros setores. Junto às caravanas que chegaram antes do ato, foi realizada, na véspera, uma plenária de preparação para o ato. Lá foi apresentado um conjunto de planejamentos para que a mobilização constituísse uma linha política comum, diferente do 29/11. A programação era de que a concentração se desenvolvesse-se no decorrer da tarde, com indicações de uma crescente na esplanada até o começo da noite – quando o ato finalmente ocorreria em paralelo à votação da PEC. Avaliava-se que a antecipação do horário da votação pretendida pelo presidente do Senado era uma manobra que não daria certo e que a votação finalmente ocorreria no início da noite, como no ato passado. Assim sendo foi sugerido que as mobilizações mais radicalizadas fossem organizadas para o ápice da mobilização, numa tentativa de coordenar a ação direta e a ação sindical em horários distintos. A longa duração da sessão do senado permitiria que o conflito entre os diferentes setores fosse contornado.

    Como agora já sabemos, esta proposta partia de uma avaliação equivocada sobre a manobra do presidente do senado. Mas já na assembleia estudantil o plano não chegou a ser aprovado e, ao contrário, desencadeou um conjunto de cisões e debates acalorados entre os grupos/delegações presentes. Apesar dos esforços anteriores, a capacidade de articulação e confiança mútua entre os distintos setores do movimento estudantil ainda estava um tanto fragilizada. Diferentes avaliações sobre como lidar com a polícia, qual a política de articulação com outros setores ou mesmo se seria possível ou não barrar a aprovação da PEC 55 não produziram ambiente para uma melhor articulação geral estudantil. Talvez a única unidade fosse na impressão geral de que haveria confronto na manifestação e que deveria haver resistência. Foi deliberado, finalmente, que um bloco estudantil caminharia, fechando as ruas da cidade, da UnB até a esplanada (pouco mais de quatro quilômetros) e se somaria aos outros blocos para realização da manifestação.

    Na manhã do dia 13, porém, a institucionalidade mostrou todo seu vigor: a manobra do Senado deu certo e a votação encerrou-se pouco depois das 13h; a operação policial amplamente divulgada pela mídia no dia anterior realizou revistas em todos os ônibus que vinham de outras cidades, apreendendo vinagres, pessoas e tudo o que pudesse ser considerado objeto de vandalismo. Um cerco enorme foi montado na esplanada para dar a clara impressão de que a ação estatal seria efetiva neste caso: um total de três mil e quinhentos policiais e demais agentes de segurança pública foram mobilizados e a esplanada foi fechada na meia noite da manhã anterior; toda cidade foi alarmada.

    * Um ato que explodiu e dissolveu pela cidade

    Nota: Como o ato teve um desenvolvimento pelo tecido da cidade, esbocei para fins do relato este mapa demarcando os locais por onde a manifestação passou ou alguns pontos de referência para quem quiser se localizar espacialmente no relato. É um mapa desproporcional, mas que ajuda a se referenciar. Durante a descrição do ocorrido, sugiro que retorne a este mapa para que assim compreenda as trajetórias dos diferentes grupos.

    A PEC da morte foi aprovada aproximadamente às 13h – uma hora antes do chamado para concentração do ato. Assim, a mobilização marcada para a tarde mudou radicalmente seu caráter. Qualquer planejamento sobre interferir ou participar do momento histórico da votação da PEC 55 foi aniquilado pelos fatos. A sensação nos primeiros momentos pós-votação era confusa: as dúvidas sobre os motivos de realizar um ato no exato momento da aprovação; a sensação de ser vítima de uma manobra dos poderosos; a constatação de que o retrocesso já estava aprovado. Muitos chegaram a cogitar, pelas redes sociais, se haveria ou não manifestação uma vez que a PEC já havia sido aprovada. Era como se estivéssemos vivendo um imenso delay histórico.

    Às 14h, na esplanada, o ambiente era ansioso, esparso e com um vazio a ser preenchido. A presença policial era ostensiva e tomava conta de todo ambiente. As notícias da manhã eram de que todos os ônibus continuavam sendo parados e revistados violentamente na entrada da cidade, com algumas pessoas detidas e objetos apreendidos. Não se sabia quantas pessoas estariam presentes no ato nem de onde surgiriam. O Bloco Estudantil saiu do Campus da UnB em caminhada para a esplanada, fechando a via L2 Norte. Outros ônibus de outras cidades haviam chegado mais cedo e estavam meio perdidos, meio ilhados, espalhados em diferentes pontos da esplanada. Havia, no Museu da Nacional de Brasília, uma concentração dos setores sindicais, principalmente do movimento da área de educação. Caravanas do MST e MTST chegaram em bom número aproximadamente às 15h30.

    Tratava-se de um ato muito diferente do anterior: os blocos eram mais organizados, a predominância dos setores de ação direta (tanto no movimento sindical quanto estudantil) era mais evidente e, em função da truculência policial, os carros de som não foram liberados para realizar o trajeto previsto. Os setores do movimento popular presentes participaram ativamente da mobilização, porém sem o protagonismo que exerceram em outras cidades – talvez pela ausência do carro de som ou talvez a própria opção de alguns destes movimentos em realizar uma participação de suporte e apoio. Sem os alto-falantes e discursos amplificados, um grande silêncio tomava conta do momento da concentração. Nele estavam presentes muitas coisas: as dúvidas sobre como realizar o ato em meio a tanta vigilância; a reorganização do trajeto, como fazer uma mobilização contundente em um cenário de repressão, aprovação da PEC e menor número de manifestantes que o ato anterior. Centralmente, havia um bloqueio policial enorme logo após a catedral. Este bloqueio não deixaria ninguém passar sem ser revistado e ter objetos ou mesmo o corpo apreendidos. Ficamos parados por horas e a pergunta no ar era \”o que diabos é possível fazer?\”

    Esta pergunta esbarrava no fato de que, nesta manifestação, não era possível algum burocrata dizer que \’havia uma minoria de vândalos/as infiltrados querendo desvirtuar o sentido original traçado pela manifestação\’ (SIC). Tratava-se de um ato composto principalmente pelos setores de ação direta, organizada para agir e resistir à violência capitalista/institucional. Às 17h, quando aproximadamente começou a movimentação do ato, suponho que havia algo próximo a cinco mil pessoas presentes. A polícia fazia questão de revistar a todas e todos, em fila. Para além da possibilidade de ser incriminado/a por motivos torpes, a revista consistiria de fato em uma humilhação estatal, um ato de suplício que determinaria quem teria o controle sobre a mobilização. Três opções circulavam entre os blocos: aceitar o baculejo policial, cedendo e realizando um ato simbólico na esplanada; forçar a passagem do bloco sem a realização da revista generalizada, a partir de pressão e negociação com o comando da mobilização; modificar o trajeto do ato, indo para outro rumo que não a esplanada.

    A disposição espacial da mobilização era, neste momento: (Museu Nacional)-> Frente Brasil Popular -> Frente Povo Sem Medo -> Bloco Estudantil <- Bloqueio Policial – (Catedral). O bloco estudantil estava à frente, visualmente estruturado para a ação direta: o corpo todo coberto; máscaras de proteção do sistema respiratório e da identidade; organizado em grupos de afinidade que se cuidariam nos momentos de tensão; com dinâmica de bandeiras em diferentes cores pra indicar quando prosseguir, parar, recuar, reagrupar; materiais para ressignificações urbanas; escudos, vinagre, leite de magnésia, comissão de primeiros socorros; organização interna para decidir como responder às investidas externas. Um jogral foi puxado por uma estudante. Ela informou sobre a decisão da PM da manifestação só prosseguir caso houvesse revista de todo mundo e da deliberação do movimento em realizar a manifestação sem ser revistado. Informou que a manifestação seguiria, que não seria revistada e que o ato seguiria à esplanada independente de qualquer decisão arbitrária da polícia.

    As baterias ressoaram, as palavras de ordem ficaram mais incisivas, as balaclavas subiram ao nariz. Um cheiro de vinagre começou a se confundir com gás lacrimogênio. O bloco se aproximou e caminhou rumo à esplanada, chegando nariz a nariz com o bloqueio policial. \”Deixa passar a revolta popular\” foi uma das últimas palavras de ordem ouvidas antes das bombas começarem a estourar. O conflito inicial, entre as duas linhas de frente, foi composto por um brutal e bestial ataque da polícia. Policiais abriram mão de suas armas e atacaram com paus e pedras que vinham do lado de cá; roubaram os escudos e passaram a se defender com as madeirites pintadas com \”Poder para o povo\”. O bloqueio da tropa de choque policial utilizou lacrimogênio, spray de pimenta, bombas de efeito moral, balas de borracha. Uma nova bomba, que faz barulho, emite luz e solta gás lacrimogênio como um buscapé também foi utilizada. A repressão policial abriu-se rapidamente.

    Este primeiro ataque policial foi brutal e muito eficiente em desestruturar o primeiro momento da manifestação: as barricadas utilizadas dia 29/11 foram rapidamente desmontadas; as bombas de gás asfixiaram qualquer tentativa de reaglomeração e resistência na rua; o bloco policial não parou de avançar de forma que recuar tornou-se a única alternativa. Mas como a repressão policial não parava (contrariando uma possível ação tática de utilizar a força bruta para conter e dispersar rapidamente a manifestação), o ato desmembrou-se em vários blocos menores que seguiu distintos caminhos pela cidade, extrapolando o espaço anteriormente previsto para a manifestação. Em suma, a repressão tornou impossível que o ato se dispersasse completamente, pois quem se desgarrava em grupos menores era perseguido e detido pela PM. Ficar organizado e em grupos grandes tornou-se também uma alternativa de autodefesa. Segue uma lista das trajetórias de alguns que parecem ter sido os principais blocos deste segundo momento da mobilização:

    – Um grupo embaralhou-se à população na Rodoviária do DF, realizando atos e mobilizações ali mesmo junto a usuários e usuárias de ônibus. Um ônibus da viação TCB foi queimado nestas imediações (cuja foto de um garoto acendendo um cigarro em seu fogo tornou-se símbolo do protesto). A partir daí este grupo ficou ilhado na rodoviária do DF, perseguido dentro dela e com pequenos focos de confronto. A polícia passou a revistar indiscriminadamente qualquer pessoa tida como suspeita e deteve algumas tantas para averiguação. Esta situação durou algumas horas.

    – Outro Grupo foi para a Rodoviária da Região Metropolitana (entorno) do Distrito Federal, no outro lado da rua. Alguns ônibus foram quebrados e há relatos de que dirigentes das centrais sindicais burocráticas passaram a denunciar uma ou outra pessoa à polícia como vândalos. Este grupo, espremido pelas bombas de gás lacrimogênio, dividiu-se em dois caminhos: parte subiu as escadas da rodoviária rumo ao andar superior (que dava acesso ao CONIC) e outra parte seguiu pela lateral da rodoviária rumo ao Setor Bancário Sul.

    – O grupo que subiu as escadas travou a via imediatamente a frente da escada, utilizando um ônibus como trava da via. Parte deste grupo seguiu para o Setor Bancário Sul e outra parte foi refugiar-se no CONIC. O CONIC, um conjunto de prédios comerciais com formato de galerias de comércio alternativo, foi sitiado pela polícia que passou a prender, espancar e perseguir quaisquer pessoas que pudessem ser identificadas como manifestantes. As lojas e prédios locais fecharam por receio de que a repressão adentrasse suas portas.

    – Um grupo grande, vindo pelos dois lados da Rodoviária da Região Metropolitana, encontrou-se no Setor Bancário Sul. A imediata compreensão de que era o setor financeiro quem se beneficiaria da aprovação da PEC estimulou a manifestação a se reorganizar e seguir, ali, realizando intervenções sobre os prédios dos bancos e outras organizações capitalistas beneficiadas pelo corte de gastos. Neste momento, por diferentes motivos (engarrafamento, dispersão, falta de planejamento) a polícia não tinha tropas direcionadas para este grupo, que era o maior remanescente da manifestação. Os/as manifestantes saíram do setor bancário sul rumo à W3 Sul, passando pelo Setor Hoteleiro/Comercial Sul. Neste caminho duas coisas simultâneas ocorreram: alguns bancos privados e sedes de partidos conservadores estavam no caminho. A resposta à repressão e aprovação da PEC 55 atingiu principalmente o Itaú Cultural, Banco Santander e Partido Trabalhista Brasileiro com sprays, paus, pedras. Não foi registrada no IML nenhuma ocorrência de vidros, prédios e placas com risco de vida. Apesar de suas instituições sugarem todo nosso sangue, edificações ainda não possuem sistema nervoso e, portanto, não podem ser vítimas de violência física.

    – Chegando ao começo da W3 Sul foi sugerido que a manifestação ali presente caminhasse até a sede local da Rede Globo, localizada cerca de oitocentos metros dali, no começo da W3 Norte. Este setor da cidade estava todo engarrafado tanto pelo horário como pelo caos instaurado há pouco pela repressão. O bloco caminhou sem problemas aparentes até bem perto da sede da Rede Globo, onde uma operação policial estava armada para conter a manifestação. Vários grupos de carros e motos da Rotam e Bope dispersaram mais ainda este bloco, fazendo com que dezenas de pequenos grupos – indo de duas até de cinquenta pessoas – fugissem da repressão rumo às primeiras quadras da asa norte. Um grupo passou pela porta da concessionária da Citroen e entrou na Concessionária, que afirmou ter tido 20 carros depredados.

    – Outro grupo correu da Globo para dentro da SQN 302, tentando sair do ato e caminhar rumo à UnB. Esta quadra e suas vizinhas são blocos destinados a parlamentares, ministros, e militares. Os blocos destinados a políticos são normalmente vazios, pois os mesmos utilizam a sua bolsa aluguel pra se hospedarem em resortes ou bairros mais luxuosos da capital. Tanto por denúncias dos moradores destes bairros elitistas como pela perseguição, estes pequenos grupos passaram a viver um jogo de pacman pelas quadras de Brasília, com a diferença de não haver qualquer pílula que transformasse momentaneamente os fantasmas em seres inofensivos. Muitas pessoas conseguiram se esgueirar e fugir pelas quadras. Outras tantas foram detidas e jogadas ao escárnio público de moradores/as conservadores/as da cidade. Há que se ressaltar, porém, que muitos/as moradores/as ajudaram pessoas que fugiam, ofereceram abrigo, indicaram caminhos e filmaram arbitrariedades policiais. Para a mídia corporativa, obviamente, só os relatos conservadores servem e importam. O ato contra a PEC havia enfim se dissolvido na cidade.

    Não foram poucos os casos de tortura, repressão e violência policial neste momento, espalhados em toda a cidade. Várias pessoas presas tomaram chutes, socos e pisões quando já algemadas e deitadas. Outras tiveram sprays de pimenta jogados diretamente em suas faces quando já rendidas. Outras tantas ouviram as mais distintas ameaças, recheadas de todos os preconceitos machistas, racistas, homofóbicos a depender de qual grupo social fossem identificados. Pessoas caminhavam pelas ruas com medo da mais simples presença policial, que podia tornar-se agressiva a qualquer momento e em qualquer local/hora. Durante muitos dias depois a sensação ainda seria a de se perceber-se perseguido/a por agentes da lei.

    * Pós-ato, vigília e tentativas de enquadramento

    Neste momento, enfim, não havia qualquer foco de manifestação pela cidade. As pessoas foram trocando mensagens, tentando se localizar, compreender o número de detidos/as e organizar redes de apoio. As delegações de fora de Brasília estavam localizando se havia algum/a preso/a de suas cidades. \”Você está bem? Onde você está?\” devem ter sido trendtopics das agências de monitoramento das redes sociais. Muitas pessoas feridas estavam se tratando e tentando evitar maiores sequelas da repressão. Ao fim, foram localizados/as a maioria das pessoas presas. Estavam ou na 5ªDP, na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) ou no Departamento de Polícia Especializada (DPE). Com a exceção de um adolescente que foi mantido na DCA, todas/os detidos/as que não foram liberados imediatamente foram levados à DPE. Convocou-se então uma vigília de apoio aos manifestantes na porta da Delegacia.

    Aos poucos foram chegando diversos militantes na porta da Delegacia. Não havia uma dimensão exata do número de pessoas detidas naquele momento, mas falava-se em um número que girava entre cinquenta e cem pessoas. Advogados/as chegaram e, após muita insistência, conseguiram entrar para encontrar as pessoas detidas. Chegamos ao número de sessenta e quatro pessoas presas quando a lista geral foi liberada pela polícia. Junto dela, também, a intenção de enquadrar todos/as detidos no artigo 20 da Lei de Segurança Nacional. Este, datado de 1983,

    \”Define os crimes contra a segurança nacional, a ordem política e social, estabelece seu processo e julgamento e dá outras providências.
    Art. 20 – Devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas. Pena: reclusão, de 3 a 10 anos. Parágrafo único – Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se até o dobro; se resulta morte, aumenta-se até o triplo.\”

    Este enquadramento era altamente arbitrário pois não havia identificação nem flagrante das pessoas detidas cometendo qualquer delito; o enquadramento seria realizado coletivamente sem discriminação individual (de um conjunto de pessoas presas a esmo na manifestação); finalmente porque uma lei oriunda da Ditadura Militar para atacar grupos políticos tratados como terroristas não deveria ser utilizada nos dias de hoje. Caso isso ocorresse, estava aberto mais um precedente do estado de exceção para criminalização dos movimentos sociais.

    A rede de apoio avolumou-se e fez diferentes atividades de pressão/solidariedade: muitos/as advogados/as foram contatados/as, ligações e articulações junto a setores de direitos humanos, agentes institucionais. Chamado a parlamentares locais e federais para realizarem intermediação na DPE e também pressão junto ao executivo local. A vigília uniu diferentes grupos à frente da DPE que, à sua maneira, faziam ligações e informes para outros grupos, compravam comidas e suprimentos para as pessoas presas; montaram um conjunto de tendas para que se abrigassem madrugada adentro enquanto a acusação definia-se ou não em relação a quem fora detido/a. Toda esta pressão teve resultado: horas depois da entrada de parlamentares e representantes do governo para mediar com a polícia, foi retirada a acusação de violação da Lei de Segurança Nacional. Todos/as detidos assinaram um termo circunstanciado e foram, durante longas horas madrugada adentro, sendo liberados/as. Todas/os, ao sair, relataram todo o terror que passaram na mão da polícia desde suas detenções (quando muitos foram torturados/as, espancados/as e ameaçados/as de morte), ao tratamento humilhante que receberam na DPE e o terror da acusação ao qual estavam sendo acometidos/as sem nenhuma prova. Por força da mobilização, enfim, uma vitória foi conquistada e a Lei de Segurança Nacional foi retirada do caso.

    Sobrou somente um adolescente preso. Este, um estudante paranaense, passou a noite dormindo ao relento na DCA, acusado de depredação de patrimônio. As possibilidades aventadas antes da audiência de conciliação era de que ele ficasse preso em Brasília até o fim do processo ou que ficasse em liberdade mas não pudesse sair dos limites do Distrito Federal rumo à sua casa. Novamente, em função de uma boa atuação das conselheiras tutelares envolvidas – junto a advogados/as, parlamentares, movimentos sociais e de direitos humanos – o jovem foi liberado para voltar a sua cidade natal e responder ao processo (com acusações bem mais brandas) em liberdade.

    Os dias posteriores ao ato estão ainda constituindo seu legado. Os movimentos sociais estão refletindo internamente sobre a nova conjuntura e perspectivas de ação. O Estado afirmou estar investigando por meio de seus arquivos, vídeos e documentos diversos militantes presentes no ato com intenção de realizar processos posteriores. A PEC da morte foi aprovada com ampla reprovação da sociedade e em sua sequência já foram anunciadas as impopulares e cruéis Reforma da Previdência e Reforma Trabalhista. Os conflitos de 2016 seguirão por algum tempo.

    * Legados e desafios

    Seguem, enfim, algumas considerações finais sobre esta mobilização e questões futuras

    1 – O ato do dia 13/12 de Brasília foi uma manifestação organizada em torno da Ação Direta; não foi um ato ordeiro desvirtuado pelos infiltrados. Ao contrário da manifestação passada, o setor que articulava um tipo de mobilização burocratizada e hierárquica não teve presença determinante na mobilização. Seja pelo aparato de segurança da polícia ter conflitado com o aparato instrumental destes setores ou mesmo por eles não terem investido seriamente na sua autoexpressão durante a mobilização. O conjunto de táticas, organizações, instrumentos e perspectivas da manifestação do dia 13/12 eram orientadas à metodologia de Ação Direta de Rua.

    2 – A ação das forças do estado do Distrito Federal tomaram a cena mais uma vez. Em um primeiro momento, pela demonstração de eficácia, controle e rapidez na repressão à mobilização. Em um segundo momento, pela estranha ação de espraiar os blocos de manifestantes pela cidade. Por fim, em sua capacidade de realização do terror urbano e persistência em perseguir manifestantes onde quer que estivessem. A polícia manteve o controle da mobilização, com uma vitória exemplar sobre a manifestação enquanto ela esteve na esplanada. Aparentemente perdeu a dimensão da ação tática quando a manifestação se espalhou pela cidade, entre engarrafamentos, blocos distintos e mudanças de trajetos. Todavia manteve-se em atividade firme mesmo quando aparentemente perdida taticamente.

    3 – Junto à disciplina, equipamentos e organização tática, também ganhou destaque a crescente e latente expressão de ódio à manifestação, por parte dos policiais. Em diferentes espaços (seja nas mobilizações, redes sociais e na hora da detenção), agentes da polícia tem apresentado uma valoração pessoal odiosa aos manifestantes, para além do exercício da lei. Este ódio expresso tem encontrado ressonância justamente junto aos setores nobres da população onde uma detenção massiva foi executada. Esta combinação de elementos deve sempre abrir um alerta a qualquer militante, pois carrega traços de violência política que leva a caminhos mais perigosos. Assim, os precedentes de criminalização pela Lei de Segurança Nacional e os relatos de tortura devem ser bem recordados pois podem indicar um acirramento muito mais radical que os que se vislumbra atualmente.

    4 – A disposição à Ação Direta aparentemente foi a responsável pela manutenção da manifestação quando da primeira dispersão. Talvez, fosse um ato organizado com uma outra disposição, a resposta à primeira repressão violenta fosse de resignação. Todavia os ensinamentos e traumas do ato anterior foram convertidos em metodologias de resistência que, se não mantiveram o ato pela esplanada, espraiaram-no pela cidade. Contraditoriamente, muitas pessoas relatavam que tentaram sair da manifestação mas em função da repressão direcionada não viram outra forma que não fosse seguir junto aos grupos organizados, como forma de autodefesa.

    5 – Dado que a Ação Direta não é debatida abertamente por um amplo setor da esquerda há pelo menos algumas décadas, estamos em um estágio muito preliminar de suas dimensões. Esta característica crescente nas lutas atuais tem diversos méritos (defendidos por quem a emprega) e fragilidades (alardeados por quem a critica) que estão poucos baseados na experiência real vivenciada. Está em aberto a reflexão por parte dos grupos defensores da Ação Direta uma análise profunda sobre quais os possíveis limites e perigos destas formas de ação. Ao contrário de fragilizar, este debate pode trazer mais aprofundamento da perspectiva. Listando algumas questões, podemos refletir por exemplo sobre a contradição em realizar manifestações com métodos de açãos direta antiestatistas e necessitar do apoio institucional para ser libertado/a da repressão (em algum momento a institucionalidade pode não comportar mais setores sensíveis às luta). Também ficou a reflexão sobre como lidaremos com o perigo que enfrentamos: por sorte, algum cuidado dos manifestantes ou decisão tática da repressão, nenhum manifestante se machucou mais seriamente. Por outro lado, o número de pessoas traumatizadas pós-manifestação é muito grande. A repressão à Ação Direta causou simultaneamente revolta popular e sequelas diversas em muitos/as militantes.

    6 – Existem, na esquerda, três principais linhas de luta convivendo durante as mobilizações – expressas neste texto cada uma delas pela Frente Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo e Setor de Ação Direta. Cada um destes três setores tem um trunfo específico que apresenta publicamente em suas lutas (infraestrutura institucional; capacidade organizativa; contundência na ação). Nas diferentes cidades brasileiras estes três setores tem convivido com mais cooperação ou conflito. Independentemente de quais fragilidades possam apontar um ao outro, todas estas estratégias tem sido derrotadas nas lutas objetivas.

    ***

    “E com o bucho mais cheio comecei a pensar:
    Que eu me organizando posso desorganizar
    Que eu desorganizando posso me organizar
    Que eu me organizando posso desorganizar”,
    (Chico Science, da lama ao caos)

    A Ação Direta não diz respeito somente a manifestações violentas; é um conceito que trata sobre romper com as mediações que sustentam a organização atual das coisas. As manifestações deste tipo atingem tanto o conteúdo da luta concreta (neste caso a pauta da PEC) como a forma da organização da sociedade capitalista. Ao propiciarem espaços de auto-organização, gestão direta das escolas/universidades, greves radicalizadas e ativas, espaços de luta não burocratizados ou hierárquicos, a luta contra a PEC da morte, ainda que derrotada objetivamente, possibilitou uma vitória que as lutas futuras hão de herdar: aprendemos que nos organizando podemos desorganizar.

    Escrito por Nigganark

    Agradeço às revisões de Leila Saraiva, Ana Vaz, Germano Corrêa, Carla Coelho, Sara Teixeira, Bianca Campos, Thiago Lima

  • Frente ao despejo e à repressão, organização

    Solidariedade com Chanti Ollín

    Do outro lado de um mar de automóveis, ativistas encontraram um edifício para fazer um projeto que, doze anos depois, está cheio de vida, de murais nas paredes, de desenhos de tantas pessoas que passam e invenções que reciclam ideias e materiais. Hoje, esse espaço está sendo destruído pelo governo \”esquerdista\” da Cidade do México.

    México, DF.

    O Chanti Ollín não é uma casa ocupada. É um espaço que abre suas portas a todas aquelas pessoas que estão dispostas a procurar, encontrar e compartilhar novas e antigas maneiras de viver em hamornia com a natureza. \”Para nós, o diálogo é intercâmbio, e o aprender fazendo, é a clave\”, diz um integrante desse espaço. Apesar de estar em uma zona da Cidade do México com mais investimento de capital, resistem e constróem opções de vida em um sentido diferente.

    Depois da greve da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM) de 1999 a 2000, um grupo de mulheres e homens que participaram do movimento estudantil perceberam a necessidade de contar com um espaço que pudesse servir de teto e no qual também seria possível desenvolver projetos e atividades alternativos que congregaram diferentes correntes de pensamento e de concepção de vida.

    Do outro lado do mar de automóveis, no meio de um ambiente de negócios e depois de buscar em diferentes pontos da cidade, encontrarm um prédio com todas as características para fazer um projeto de vida e de esperança. O espaço que agora está repleto de áreas cheias de vida, de murais nas paredes, de desenhos de tantas pessoas que passam por ali e que fazem invenções que reciclam ideias e materiais. O que as pessoas das cidades consideram lixo, para eles é visto como uma possibilidade de algo novo e útil.

    Comparando com a lógica do capital, que cria objetos que devem para de funcionar em curto período de tempo, tornando-se obsoletos e materiais para as lixeiras, os moradores do Chanti criam um mundo de possibilidades aproveitando cada parte.

    Em doze anos, o projeto de Chanti Ollín passou por diferentes etapas, sobreviveu a duas tentativas de despejo e hoje está sofrendo a terceira tentativa. Na madrugada de hoje, 22 de novembro de 2016, o Chanti Ollin foi despejado por granadas, que bateram e levaram seus 26 membros e uma menor de três anos de idade a agência policial número 50. Companheiros que se acercaram ao Ministério Público informaram que as autoridades se negaram a dar informações sobre os companheiros e que maquinas de demolição já estão no perímetro de fora do prédio, o que faz as pessoas temerem pela demolição completa do espaço. Por isso fazemos um chamado de solidariedade internacional com o espaço e seus habitantes.

    As diferentes atividades que se realizam no espaço, apoiam o propósito ciclico do Chanti. De uma maneira em que tudo se complementa. O forno produz o pão para comer e a cinza se utiliza nos banheiros secos que foram construídos ali mesmo. Da mesma maneira se planta e se colhe em sua horta verde os frutos com que são feitos os alimentos. \”O povo mexicano é filho da milpa*, que não é só de milho, mas que inclui o feijão, a abobora e o amaranto. É nossa identidade, e temos que semear as sementes necessárias para não perdê-las\”, relata uma mulher. O Chanti também conta com grupos de dança e teatro que vão a diferentes cidades e comunidades do país, um estúdio musical e um lugar onde seus membros fazem uma televisão comunitária todas as quartas, que abre as portas aos que querem aprender.

    Sem pedir nada às intituições nem aos governos, com uma crítica sistemática ao modelo capitalista, constróem em seu fazer de todos os dias um espaço para uma vida mais justa, que sirva de refúgio artístico, cultural e ideológico com espírito ancestral. As ações imediatas para a recuperação e a solidariedade com o espaço são fundamentais para sua sobrevivência. Informe-se, apóie e difunda.

    Ante el desalojo y la represión, organización
    Solidaridad con el Chanti Ollín

    Al otro lado de un mar de autos, los activistas encontraron un edificio para hacer un proyecto que, doce años después, está repleto de vida, de murales en las paredes, de dibujos de las tantas personas que pasan e inventos que reciclan ideas y materiales. Hoy este espacio está siendo destruído por el gobierno “izquierdista” de la Ciudad de México.

    México, DF. El Chanti Ollin no es una casa ocupada. Es un espacio que abre sus puertas a todo aquel que esté dispuesto a buscar, encontrar y compartir nuevas y antiguas maneras de vivir en armonía con la naturaleza. “Para nosotros el diálogo es intercambio, y el aprender haciendo, la clave”, señala un integrante de este espacio. A pesar de encontrarse en una de las zonas de la Ciudad de México con más inversión de capital, resisten y construyen opciones de vida en sentido distinto.

    Después de la huelga de la Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM) de 1999 al 2000, un grupo de hombres y mujeres que participaron en el movimiento estudiantil se vieron en la necesidad de contar con un espacio que les sirviera de techo y en el cual poder desarrollar proyectos y actividades alternativos que congregaran diferentes corrientes de pensamiento y de concepción de la vida.

    Al otro lado de un mar de autos, en medio de un ambiente de negocios y después de buscar en diferentes puntos de la ciudad, encontraron un edificio con todas las características para hacer un proyecto de vida y esperanza. El espacio ahora está repleto de áreas llenas de vida, de murales en las paredes, de dibujos de las tantas personas que por ahí pasan e inventos que reciclan ideas y materiales. En lo que la gente de la ciudad considera basura ellos ven una posibilidad de algo nuevo y útil.
    En comparación a la lógica del capital, que crea objetos que dejan de funcionar en un corto lapso de tiempo, volviéndolos obsoletos y material para los basureros, los habitantes del Chanti crean un mundo de posibilidades aprovechando cada parte.

    En doce años, el proyecto de Chanti Ollin ha pasado por diferentes etapas y ha sobrevivido a dos intentos de desalojo y ahora están viviendo el tercer intento. En la madruga de hoy, 22 de noviembre de 2016, el Chanti Ollin fue desalojado por granaderos, que golpearon y se llevaron a 26 de sus miembros y a una menor de tres años de edad a la agencia de policía número 50. Compañeros que se han acercado al Ministerio Público informan que las autoridades les han negado información sobre sus compañeros y máquinas de demolición se reportan a la afueras del edificio, se teme que se realice una demolición completa del espacio. Desde Acá hacemos un llamado a la solidaridad internacional para con este espacio y sus habitantes.

    Las diferentes actividades que se llevan a cabo abonan al propósito cíclico del Chanti. En efecto, todo se complementa. El horno produce el pan que habrá de comerse y la ceniza que se utiliza en los baños secos, que construyen ahí mismo. De igual manera siembran y cosechan en su azotea verde los frutos con los que se hacen sus propios alimentos. “El pueblo mexicano es hijo de la milpa, que no solo es el maíz, sino que incluye el frijol, la calabaza, el amaranto. Es nuestra identidad, y hay que sembrar las semillas necesarias para no perderlas”, relata una mujer. En el Chanti también cuentan con grupos de danza y teatro que llevan a diferentes ciudades y comunidades del país; un estudio musical y un foro desde donde todo los miércoles se hace television comunitaria, que abre sus puertas a todo aquel que quiera aprender.

    Sin pedirle nada a las instituciones ni a los gobiernos, con un crítica sistemática al modelo capitalista, construyen en su que hacer de todos los días un espacio por una vida más justa, que sirva de refugio artístico, cultural e ideológico con espíritu ancestral. Las acciones inmediatas para la recuperación y solidaridad con el espacio son fundamentales para su sobrevivencia. Infórmate, apoya y difunde.

  • Ocupa X Greve numa lista de discussão

    TOPICO #ocupaxgreve abrimos este topico pra juntar rapidamente elementos pra discussao. Responda usando #ocupaxgreve pra facilitar a  organização do debate. Há uma recente expansão das ocupas nas universidades federais. É importante contribuirmos neste momento, indicando sobretudo os novos elementos que caracterizam a inovação política e organizacional das ocupas dos secundas. Em algumas universidade ja observamos um risco de reprodução de velhas formulas que tendem a esvaziar as universidades. Um problema parecido tbem se apresenta com relacao à forma greve nas universidades. Em suma, que elementos importantes podemos destacar neste momento:
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    #ocupaxgreve  ocupação com aulas mantém a mobilização, a universidade cheia e até uma tensão com os professores tendo que se deslocar de seus lugares de conforto. isso é fundamental para o sucesso da mobilização.
    Greve esvazia a universidade e coloca o controle da mobilização de volta nas mãos dos aparelhos sindicais burocratizados.
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    #ocupaxgreve Os docentes da UFBA apoiam as ocupações, mas já descartamos a greve da categoria. Universidade funcionando é resistência
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    #ocupaxgreve na UFABC tivemos um dia de paralização muito esvaziado. Concordo com a colega, é fundamental ocupar e seguir com as aulas. Mas aulas onde o assunto seja a greve, com debates em pequenos grupos. Me parece fundamental nesse momento que todo mundo possa se expressar, mesmo aqueles que estão a favor da PEC. O dialogo e o debate aberto, e não os posicionamentos ideologicos e intelorantes.
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    #ocupaxgreve Aderimos à greve geral do dia 11/11 e estamos construindo com outras entidades a paralisação aqui na Bahia.
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    #ocupaxgreve No meu ponto de vista greve na educação somente prejudica os próprios grevistas, o Estado não se fere com uma Universidade ou escola parada/esvaziada. O que acredito é que devemos ocupar universidades e escolas num caráter subversivo, construindo saberes de formas diversas do tradicional destes espaços. Concordo muito com a fala da colega, só queria contribuir com estas pequenas reflexões.
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    #ocupaxgreve e não devemos esquecer que tivemos 3 meses e meio de greve inutil no ano passado em muitas federais. O que dificulta muito o apoio à greve de hoje.
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    #ocupaxgreve os aparelhos sindicais aproveitam a greve para misturar a pauta da PEC e do Ensino Médio, justas e populares, com pautas super controversas e sem nenhum apoio da comunidade universitária. Isso já aconteceu ontem na UFF. Enfiaram uma moção contra o marco da ciência e tecnologia, que a maioria da universidade apóia, só os aparelhos são contra.
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    #ocupaxgreve Isso aconteceu ano passado, tínhamos uma bela greve estudantil na UFRJ, com a pauta da assistência estudantil, que todo mundo apoiava. Aí a antiga direção do sindicato impôs uma greve docente que trouxe pra si o protagonismo da mobilização, esvaziou, criou divisão interna e, o pior: dissolveu a pauta dos estudantes em suas pautas sindicais infindáveis e lunáticas.
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    #ocupaxgreve Greve na educação publica tem caracteristicas diferentes de outros setores mas discordo bastsnte que somente prejudica os proprios grevistas. A dinamica é diferente no sentido que não tem uma paralisaçao da produçao de lucro diretamente, mas fazer greve nesses setores significa que os professores e funcionarios tem agora tempo livre pra desenvolver a luta. Em vez de passar horas em aula, se preparando ou fazendo provas etc, todo mundo ganha muitas horas por dia, que antes estariam ocupados, pra poder se dedicar a como pensar e colocar em pratica a luta qie tem que ser feita. Ela gera tempo e espaço pra conseguir fazer a luta, em outros setores só fazer a greve ja é a luta em si.
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    #ocupaxgreve Na educação superior pública é diferente da educação básica. Não colocaria as duas greves do mesmo jeito.
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    #ocupaxgreve O problema é que na prática, durante as greves na educação pública que vivi pelo menos (2012 na UFPE, 2014 e 2016 na USP) a Universidade fica vazia onde as \”vanguardas\” tem presença política, enquanto o resto da Universidade vive como se nada estivesse acontecendo.
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    #ocupaxgreve. Não sou a favor de greve nas universidades agora, por vários motivos. Mas ocupa com aulas também não me parece tão produtivo…Não é isso nas escolas. As ocupações em instituições burocráticas de ensino ou são mais interessantes, me parece. Só vale dizer que a greve aqui na UFSCar não foi inútil, ela possibilitou uma discussão politica interna muito boa, a formação de coletivos e reflexão, muitos CAs nasceram ali, etc.
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    #ocupaxgreve o dado objetivo é que a força de uma greve está em paralisar a produção. Isso nunca acontece em greves de universidade. Todos seguem fazendo bancas, preenchendo Lattes e entregando relatórios para as agências de fomento em pesquisa. A introdução da racionalidade neoliberal via avaliação contínua minou a capacidade de enfrentamento político de professores que viraram empreendedores de si. Não estou certo se o modo ocupação resolve isso, mas já uma movida diferente. A universidades já se transformam em um dos principais centros de produção e reprodução da força de trabalho no capitalismo imaterial, com investimentos passados na subjetividade por via tolerante e democrática. É preciso forjar uma nova arma, que como a greve, tenha poder de botar medo no patrão.
    Em 2012 vivi uma greve-ocupação como professor na PUC-SP. Era uma greve política contra a nomeação de uma reitora não escolhida pela comunidade puquiana. A greve foi incrível, com adesão e atividades diárias. Mas não alcançou seu objetivo. E vieram depois as vinganças institucionais. Como disse, a ocupação é certamente mais interessante do ponto de vista educativo e produz transformações na subjetividade das pessoas que são difíceis de mensurar, mas em termos objetivos também não tem força de paralisar a produção. Quarta conversei rapidamente com um colega sobre isso: como o trabalhador precário/inteiramente/intelectual faz greve? Deixa de responder email? Quando força de trabalho vira capital humano e o que se faz para viver se transforma também no que se faz da vida, resistência e existência se implicam e estamos muito mais expostos às capturas do Estado e do Capital. #ocupaxgreve
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    #ocupaxgreve tem um texto do Negri sobre a Greve Abstrata, apresentado em um encontro interessante chamado ABSTRIKE. Ou seja: como repensar a forma greve em tempos de capitalismo cognitivo?
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    #ocupaxgreve um modo de greve muito mais eficaz seria a greve de lattes, e não uma greve onde paramos aulas na graduação para engordar ainda mais o lattes
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    #ocupaxgreve a valorização em cima de nosso trabalho intelectual se dá no sentido inverso desse. A graduação é onde somos menos capitalistas. Por isso a aula não pode parar. A greve tem que ser na produção intelectual, que acumula no capitalismo cognitivo #ocupaxgreve
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    #ocupaxgreve Também acho. Aliás, as greves em geral, atingem só a graduação, o que é pior que não fazer greve.
  • NOTA PÚBLICA. NÃO AOS RETROCESSOS, NÃO À INDICAÇÃO DE MILITAR NA PRESIDÊNCIA DA FUNAI!

    Retirado de: https://mobilizacaonacionalindigena.wordpress.com/2016/06/30/nota-publica-nao-aos-retrocessos-nao-a-indicacao-de-militar-na-presidencia-da-funai/. Acesso em: 2 de julho de 2016.

    A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB, entidade nacional que congrega organizações indígenas das distintas regiões do país, vem de público manifestar seu veemente repúdio às articulações fechadas entre o líder do governo na Câmara dos Deputados, deputado André Moura, do Partido Social Cristão (PSC) e o deposto ministro do Planejamento e réu da Operação Lavajato, senador Romero Jucá (PMDB), de longa trajetória anti-indígena, que culminaram, nesta semana, com a indicação, ainda não consumada, do general Roberto Sebastião Peternelli ao cargo de Presidente da Fundação Nacional do Índio – FUNAI.

    A só cogitação do general para a presidência do órgão indigenista gerou revolta e indignação entre os povos e organizações indígenas e suas redes de aliados no Parlamento e em amplos setores da sociedade. Nada por acaso. Sabe-se que o indicado, que foi candidato a deputado federal pelo PSC em São Paulo em 2014, e não conseguiu se eleger, é a favor da PEC 2015, portanto contra a demarcação das terras indígenas, além de enaltecedor do golpe militar de 1964 e dos feitos da ditadura. Certamente ele virá, se efetivamente nomeado, a militarizar a política indigenista, com todas suas imprevisíveis conseqüências, fortalecendo a perspectiva do Estado policial que está sendo instalado no país, com a criminalização dos movimentos sociais.

    Essa absurda indicação, que segue à invisibilidade dada à FUNAI na estrutura do Ministério da Justiça, ao corte orçamentário da instituição, à inviabilização do Conselho Nacional de Política Indigenista – CNPI, ao aniquiliamento de outros órgãos de governo que tratavam de políticas voltadas aos povos indígenas, como o Ministério de Desenvolvimento Agrário – MDA, a Secretaria de Direitos Humanos, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão – SECADI no Ministério da Educação, entre outros, certamente reflete a determinação do atual governo interino de Michel Temer de travar de vez quaisquer tipos de avanços e regredir ou suprimir as conquistas alcançadas nos últimos 28 anos na Constituição Federal e nos tratados internacionais assinados pelo Brasil a respeito do reconhecimento da diversidade étnica e cultural dos povos indígenas e de seu direito originário a suas terras tradicionais. A perspectiva, não tem outro nome, é nada mais do que a de uma política etnocida e genocida, que quer o fim dos povos indígenas, hoje mais do que nunca considerados pela elite de plantão empecilhos ao chamado desenvolvimento e progresso, o vil capital.

    A APIB, acolhendo o clamor de suas bases, reitera que os povos e organizações indígenas de todo o país estão em estado de alerta e dispostos a não admitir retrocessos de nenhum tipo, a começar pela indicação de um militar que impossibilitará quaisquer condições de diálogo na construção das políticas públicas que a esses povos interessa como, mesmo com dificuldades, vinha acontecendo no governo afastado de Dilma Rousseff.

    PELO NOSSO DIREITO DE VIVER

    Brasília – DF, 30 de junho de 2016

    Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB

    Mobilização Nacional Indígena