Tag: Chile

  • A guerra na pele – corpos marcados

    por Andrea Roca e Rodrigo Millán [1]

    Em uma das passagens de O torcicologologista, Excelência de Gonçalo M. Tavares, o leitor se defronta com a seguinte pergunta: 5 gramas de folhas brancas são equivalentes às 5 gramas que pesa a belíssima borboleta da Nova Guiné? Não. A beleza, argumenta-se, transbordaria a lógica da aritmética. No cerne da revolta do Chile neste histórico outubro de 2019, aqui, lembramo-nos de Tavares não para pensar na beleza e sim no seu adverso: o peso do horror.

    A redemocratização chilena foi, entre tantas coisas, uma aritmética coletiva dolorosa. Aprendemos a contar em centenas, em milhares, as mulheres e homens torturados, desaparecidos e executados políticos. Em 1991, a Comissão da Verdade e Reconciliação trabalhou rapidamente na quantificação das vítimas da violação dos direitos humanos cometida pela ditadura cívico militar de Pinochet (1973-1990). Contas, aliás, não conclusivas por várias razões, entre elas, pela negação das Forças Armadas e da Ordem Pública de que existissem qualquer informação que contribuíssem à persecução criminal dos seus membros. Isso não deve ser uma surpresa, se considerarmos que o próprio ditador foi o Comandante em Chefe das Forças Armadas até 1998, e Senador da República até 2002.

    Hoje, em outubro de 2019, às contagens funestas voltaram no Chile. Por decreto de Sebastián Piñera, o país viveu 10 dias sob Estado de Exceção Constitucional de Emergência. Isto, em resposta a onda de protestos e revoltas espalhadas na capital, e logo, no resto do território. A atuação das forças policiais e militares nesses dias, forçaram-nos a contar, mais uma vez, em centenas, em milhares. Conforme dados entregados pelo Instituto Nacional dos Diretos Humanos (INDH), no período de exceção, houve 1.132 civis hospitalizados. A associação dos oftalmologistas denunciou lesões oculares graves em 120 manifestantes. De outro lado, 3.200 pessoas foram presas pela polícia, das quais 340 eram crianças e adolescentes. As detenções em casos que ainda devem se contabilizar, incluíram golpes, sessões de tortura e de vexame sexual. A violência policial, conforme testemunham vários jovens, foi acompanhada de ameaças verbais que remetiam ao passado ditatorial: “Vamos fazer agora como antes fazíamos”. Por certo, a corporação defende-se das acusações: os abusos são exceções. O comandante geral de Carabineros de Chile, Mario Rozas, quando perguntado sobre os erros dos Carabineros nas últimas duas semanas, afirmou estar muito conforme com o trabalho realizado pelo corpo policial: sempre atento aos direitos humanos. Sobre o número de manifestantes vitimizados, na lógica do empate, o comandante enfatizou a cifra de 700 policiais e militares feridos. Nenhum deles, no entanto, em estado grave; nenhum deles, morto.

    O terror, tal como a beleza, simplesmente, excede a aritmética. Os números higienizam demais, funcionam dentro de uma escala de normalização. Os números escondem os corpos. É no campo das imagens, onde desponta o peso neto do sofrido nestes dias. Centos de fotografias e vídeos que circulam nas redes sociais, vemos o sangue escorrer pelas pernas, costas e rostos. As selfies transformam-se em ferramenta, desta vez, não de vaidade e sim de denúncia: os jovens, hoje, caolhos, por culpa das balas de borracha, fotografam seus rostos mutilados e chamam a continuar a luta. No Facebook, circula o testemunho de um jovem universitário cujo anus foi despedaçado com um cassetete pela polícia. As armas ditas não letais, nestes dias, de revolta e crise, apresentadas como o que realmente são: artefatos de tormento.

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    Neste universo numérico fatídico, há ainda uma cifra mais discreta, que nem chega a uma dezena mas que releva o jogo completo. Tratam-se dos 5 manifestantes assassinados pela polícia e militares: Romario Veloz, Manuel Rebolledo, Alex Núñez, Kevin Gómez e José Miguel Uribe. Todos eles, jovens populares. Mesmo que a letalidade estatal pareça arbitrária, é seletiva. São os corpos dos pobres da cidade, seu alvo preferencial. Contudo, nestes 10 dias, inclusive, vimos a militares reprimindo inusitadas passeatas de jovens da elite em bairros nobres de Santiago solidarizando com as demandas por uma vida digna, o aumento do salário mínimo e o fim da ocupação militar. Esta repressão, sim, foi uma exceção.

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    Há outros números mais elusivos. O governo informou 10 pessoas achadas mortas em lojas e supermercados saqueados e logo, incendiados. Na região dos rumores, há suspeitas de que se tratariam de pessoas mortas e lançadas nos locais incendiados. Os laudos forenses e investigações deverão trazer luz sobre esses acontecimentos. Ainda, está a contagem mais imprecisa dos desaparecidos. O dia 28 de outubro, o INDH afirmou que das 72 denúncias de desaparecimentos, 68 delas já tinham sido resolvidas, logo que essas pessoas retornassem a suas casas. Ainda quatro pessoas permaneciam sem tomar contato com as suas famílias.

    Os números revelam e ocultam a um só tempo. Nos primeiros dias, o governo informou publicamente as cifras de falecidos sem dizer os seus nomes. Isto, permaneceu assim por mais de três dias até que Piñera resolveu lamentar as mortes. A displicência dos governantes com respeito aos falecidos, foi respondida com força nas ruas: os nomes dos mortos disseminaram-se pelas paredes de Santiago e o resto do país. Os rostos dos jovens foram carregados em cartazes nos multitudinários protestos. Em ato de denúncia estético política, ativistas anônimos pigmentaram de vermelho as águas das fontes mais importantes da região central da cidade.

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    Os corpos, o campo da batalha que Sebastián Piñera deu inicio à noite da segunda-feira, 21 de outubro. Acompanhado do Ministro de Defesa, Alberto Espina, e do Comandante do Exército, Javier Iturriaga, em transmissão televisiva, declarou: “Estamos em guerra contra um inimigo poderoso, implacável […] disposto a queimar nossos hospitais, nossas estações do metrô, nossos supermercados, com o único propósito de produzir o maior dano possível a todos os chilenos”. A mensagem bélica foi respondida nas ruas: “Não estamos em guerra. Estamos unidos” – um dos tantos slogans que se multiplicaram nas manifestações e nos canais virtuais. Acerca da declaração de guerra, o pai de José Miguel Uribe, jovem de 25 anos, morto a tiros por militares em Curicó, pequena cidade de 100 mil habitantes localizada a 200 quilômetros ao sul de Santiago, culpava a Piñera. A declaração de guerra, abriu a margem de ação dos militares para o horror. “Eles andavam com uma panelinha, batendo uma panelinha, isso faziam, e os militares não acharam melhor coisa que matar a um moleque”, comentava com dor à imprensa. Mais de 10 mil pessoas saíram nessa cidade para exigir justiça para “El Chino”, como era chamado por seus amigos. Por certo, foi a maior mobilização de rua da história desse centro urbano.

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    Frente a violência policial e a vulneração dos direitos humanos, um grupo de deputados já deu início ao processo de acusação constitucional contra o mandatário e o ex-ministro do Interior, Andrés Chadwick, removido do seu cargo na passada segunda-feira, 28 de outubro. O domingo 27 de outubro, a aprovação de Piñera caiu a um 14% segundo a pesquisa Cadem, a cifra mais baixa a um mandatário desde o retorno da democracia. O governo decretou o fim do estado de exceção, essa mesma noite. A ONU celebrou a decisão, nos dias em que se prepara a visita de uma missão para os Diretos Humanos que permanecerá três semanas no país. A esse trabalho, soma-se a equipe de Anistia Internacional (AI) que já chegou no Chile. Rapidamente, declararam que as primeiras impressões eram desastrosas e davam conta de violações aos direitos humanos, com consequências traumatizantes para as vítimas diretas da violência, assim como para a sociedade no seu conjunto. O dia 30 de outubro, em um sentido diferente, o novo Intendente metropolitano, Felipe Guevara, afirmou que o primeiro direito humano era a segurança, qualificando os abusos policiais como simples fatos pontuais. A estratégia negacionista é seguida por alguns políticos e intelectuais de direita que afirmam que, na verdade, quem vulneraram os direitos humanos foram os baderneiros que destruíram e saquearam a cidade. De tal modo, tergiversam o sentido do conceito: denunciar os abusos e crimes dos agentes do Estado contra a população civil.

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    Entre todas estas cifras, encerramos com a cifra mais bela, até agora, da revolta. Na sexta-feira passada, 1,5 milhões de manifestantes reuniram-se em um dos pontos mais importantes de Santiago, a Plaza Italia, para exigir a saída dos militares, o fim do estado de exceção, uma nova constituição, e o direito a uma vida digna. Talvez seja a maior passeata da história do Chile, só comparável, em números, com algum dos grandes comícios antes do plebiscito de 1988. Experiência inédita para muitos de nós, não só pela escala e sim, pela intensidade e sentimento de comunhão na luta contra a desigualdade. Se bem as mobilizações de rua dificilmente consigam novamente essa quantidade de participantes, elas continuam e não há previsão de isto parar no imediato. No entanto, o Ministério Público chileno investiga 840 acusações por violações dos direitos humanos. A mesma instituição divulgou ontem uma lista com a identificação dos nomes de 22 dos 23 falecidos nas últimas semanas de estado de exceção e protesta social. Como voltar à pretendida normalidade?

    [1] Andrea Roca é antropóloga pela Universidade do Chile e doutora em sociologia pela Universidade de São Paulo. Rodrigo Millán é sociólogo pela Universidade Católica do Chile e doutor em arquitetura e urbanismo pela Universidade de São Paulo.

  • Hasta que Valga La Pena Vivir

    Si mi pelo es real mi voz es real.  
    Si mi pecho es real, mi sombra es real.
    Si mi hambre es real, mi lucha es real.

    REAL - E$tado Unido feat Stéphanie Janaina

    #HastaQueValgaLaPenaVivir

    Escribo como escuchadora de palabras, frases, voces e hyperlinks, las cuáles flotan como partículas, dentro de la atmósfera de este baile salvaje. La frecuencia de las ondas de sonido de la radio, en cualquier casa de Chile mudó, así como lo hizo el algoritmo. Escribo desde Fuera de cualquier orden de comando del iluminismoepistemológico-patriarcal. Con el cuerpo vibrando en esta otra frecuencia, la frecuencia extranjera y alienígena que dobla la curva del tiempo y la Historia. Escribo y escucho con tejer, de la misma forma que lo hicieron las tejedoras-arpilleras durante los años ´80. Reactivando las memorias en las fibras del tejido.

    Se divisa un color fuego-fluorescente, que desdibuja y descolora los grises y cenizosos focos tonales en la topología del Sur presente: neoliberal, en sus derivas y alianzas neofascistas, neo-extractivistas, neoconservadoras. Santiago de #ChileDespierta el día #18O, con les adolecentes-estudiantes dispuestes a jugar, bailar. Así como (algunas) niñes traen a les muñecxs y múltiples objetos de vuelta a la vida del juego, les estudiantes-adolecentes hacen revivir y reactivar, no tan solo el metro en #evasión, pero a una tierra y su pueble. Y es que este largo, boscoso y a su vez, desértico territorio que convive junto con el #OcéanoPacíficoEnCacerolazo, (que también acoge las partículas de hueso de nuestres desaparecides el año ´73), reactiva placas tectónicas, mareas, tsunamis. Esta vez no como el show televisivo de la “catástrofe natural”, pero como un pueble que sabe que la tierra #Noles pertenece, pero que nosotras pertenecemos a ella, la tierra. Y por tanto la reactivamos, para vibrar y #Despertar.

    Es la vibración tectónica de un cuerpo-pueblos que reverbera al poder sentirse, y auto percibirse: un juego de reactivar las cosas, para auto-expropiarse del estado de agotamiento neoliberal en nosotres, y que nace desde la ética del saber del cuerpo del pueblo. Es decir, desde este mal encuentro, con el presente estado de cosas en nosotras mismas. Si la piel es lo más profundo, el pueblo de la tierra baila, llora, y se emociona profundamente, en medio de los #cacerolazos, los cuerpos sacrificados en antenas de luz, y los saqueosentre un sinfín de gestos expresivos del pueblo (y violencias de los militares), en una fiesta tribal, en la cuál hay que bailar hasta dejar toda la piel.

    Ya no es El baile de los que sobran de los Prisioneros, canción del pueblo a fin del régimen dictatorial en los ´80. Este actual baile tribal del pueblo-cuerpo excede y destruye la memoria cristalizada. El pueblo guarda las fuerzas de las memorias, para expropiarse, curarse y cuidarse. La legión extraterrestre y extranjera se reterritorializa.

    Durante la noches de #toquedequeda (7 en total en Santiago), se proyectan las imágenes (entre otras tantas acciones) de nuestres muertes, en la actual-ruina del edificio de la compañía española, Telefónica, arquitectura de la casa del “pacto social” (matrimonio entre neoliberalismo y reformas sociales) ejercido durante el retorno a la democracia, a comienzos de los años ´90, por los partidos de la Concertación. Las imágenes de les muertes del pueblo-cuerpo se proyectan, no tan solo para señalar la violencia del #E$tado en su modalidad femicida y “Empredicidia” (@CoordinadoraFeminista8M, 2019). Pero sus rostros, se proyectan y reaniman para para que otras vidas ganen en consistencia, en realidad. Reanimamos, #Despertamos.

    En medio de estos bailes, los pueblos de las tierras del desierto, en el salar de Atacama, bloquean el acceso a las minas de litio del país, parte de la #HuelgaGeneral, que no sólo incluye trabajdrxs y sindicatos, pero #VentanasEnHuelga entre otras cosas, personas y objetos. Son los indígenas-pueblo que ponen el cuerpo frente al mineral colonizado. Y es el texto-calle del pueblo-cuerpo que des-reprime la voz-robada en forma de poesía: No era depresión, era capitalismo.El pueblo-cuerpo tiene la inteligencia de estar a la altura de la vida. Hace ya varios años el colectivo No es lo mismo ser loca que loco, denunciaba y reexistía frente al abuso psiquiátrico-patriarcal. Es la alianza entre lo urbano y el desierto que hackea cualquier trazo romántico, del matrimonio extractivista en sus diversas modalidades y composiciones, en este caso, la fármaco-anestesia general del malestar. Les indígenas-pueblo, y l-s mapuche-pueblos abrazan y cuidan al pueblo-cuerpo.

    Les trabajador-s de la salud pública y un grupo de psicólogxs@devenir.cl se organiza para realizar atendimientos gratuitos al pueblo-cuerpo. Auto-organización espontánea de los cuidados, que excede la escucha psicológica de un sujeto, pero que acompaña al cuerpo-pueblo en su devenir de la subjetividad, o más bien en su dessubjetivación del estado de vaciamiento y agotamiento neoliberal en nosotres. Una alianza vibratoria entre el Cuerpazo del pueblo-cuerpo, y les escuchador-s, al servicio del devenir. No es casual algunos militares-insurgentes también subviertan las órdenes del ejército y bailen con el pueblo-cuerpo. Hijxs de genocidas de la dictadura, se organizan, no tan sólo para denunciar el abuso y las torturas del ejercito, pero llaman a la desobediencia.

    Muches cuerpos-pueblo, incluyendo guaguas (bebés), y ancianos con diversidad funcional, desafían las órdenes de los militares, por agotamiento, vaciamiento. Es simplemente la expresión del impasse de vivir una muerte en vida, de esa gorda salud dominante que nos vendieron y que pagamos muy caro. Como dice una nieta-pueblo: mis abuelos sobrevivieron a la dictadura, pero murieron en manos de la salud pública. Una crisis de cuidados, que ya vienen denunciando las feministas, así como organizaciones alrededor de la salud pública, desde el comienzo del movimiento estudiantil en 2006-2011, y que transversalizó la organización hacia muchos planos de la existencia.

    Podría seguir tejiendo puntos, en un sinfín de modos de reexistencia del pueblo-cuerpo y sus formas de alianzas de las almas, las cosas, y les cuerpes. Como grita, con los pelos de la piel erizados, una de las cantantes del chile-pueblo, en un #CacerolazoCultural: “Estamos poniendo el corazón, el alma, esta revolución es por la dignidad!”. Recomiendo los dos textos (I, II) de @MartaDillon de #NiunaMenosArgentina para seguir navegando en esta enorme zona de intensidad. Como dice una amiga por mensaje de voz: “todo va en un movimiento en donde no se puede captar todo, del todo. No es rápido, ni lento, es fluctuante”

    Ayer #26O, @SebastiánPiñera, llamaba a la paz, bajando el #EstadodeEmergencia. Sigue sin escuchar la frecuencia del cambio de meseta, por que este acontecimiento excede la dialéctica de la percepción de esa partición de lo sensible. Habitamos un tiempo en dónde no hay pasado, presente, ni futuro. Es un tiempo espiral y extendido que se actualiza rítmicamente, en un #ChileenMovimiento el año 2019 en el planeta tierra. Al igual que ese metro que dejó de avanzar en línea recta, y evadió ese tiempo neoliberal.

    El pueblo-cuerpo del territorio tectónico de #ChileDespertó, se hace parir, muriendo. Como en cualquier nacimiento, hay dolor, llanto, violencia, alegría. Bien lo sabemos las que parimos les mini-cuerpes con el pañuelo verde en nuestras gargantas. El cuerpo-pueble no se deja seducir, al igual que las feministas. Lo escribe como acto de salud, un grafiti de la calle dice: El neoliberalismo nació y murió en Chile.

    El pueblo-cuerpo accede al ritmo de la marea, la cordillera, el viento. Por que el pueblo pertenece a la tierra y no al contrario. Y quizás es que nuestra ancestrología patagónica de tierra del Fuego, les Selknam, las primeros indígenas extrerminad-s en la constitución del #E$tadodeChile, hace ya más de 200 años, también nos hablan y hacen vibrar. Elles organizaban su existencia en base a los movimientos del viento. Y lo que pide el pueblo-cuerpo es simple: una reexistencia vía #asambleaconstituyente en base a los criterios de la pulsión de vida, y las categorías políticas del Agotamiento, en una lucha que se autoriza a sí misma a ejercer, excediendo los antagonismos del movimiento social. La #AsambleaConstituyente ya está escrita en la calle.

    Y si #Piñera llama a la paz, pues nosotr-s puebles llamamos a la vida. Por que la vida es un riesgo, por que la vida no es fácil, por que la vida hay que inventarla, por que la vida es en sí misma una variación de intensidades, planos, rupturas, nacimientos, abortos. Las escuchadoras de voces sabemos. Y para sostener la intensidad de vivir, debemos también cuidarnos.

    Paula Cobo-Guevara

    27 de Octubre, 2019.

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    foto: Susana Hidalgo

  • escolas tomadas

    Alunas ocupam universidades no Chile para denunciar violência de gênero

    traduzido por: Bárbara Lopes

    Com ocupações e greves, estudantes universitárias chilenas estão em uma grande onda de manifestações contra a violência machista e por protocolos contra casos de assédio sexual que, segundo as jovens, são acobertados pelas instituições. No momento, são 15 universidades ocupadas e outras tantas em greve. O estopim foi na Faculdade de Direito da Universidade do Chile, ocupada por alunas no dia 27 de abril para protestar contra a demora de uma resposta a uma denúncia de assédio sexual e trabalhista feita há oito meses contra um professor. Em apoio à mobilização, professoras, intelectuais e ativistas políticas fizeram um manifesto que traduzimos abaixo:

     

    Estamos diante de um movimento de transcendência histórica. Estão se levantando, em nosso país, em diversas universidades, assembleias, greves e ocupações feministas, configurando formas de ação coletiva que há poucos anos não eram sequer imagináveis e que hoje estouram no cenário público para desafiar as fundações patriarcais e androcêntricas das instituições universitárias.

    Este novo ciclo de mobilizações, que se inicia por denúncias de assédio sexual e pela insuficiência dos protocolos e normativas existentes, abre uma possibilidade inédita de colocar em questão o sistema de educação superior em seu conjunto, pois tanto a violência machista quanto a reprodução das desigualdades de gênero denunciadas estão estreitamente imbricadas com o caráter antidemocrático e mercantil das instituições educativas.

    Sabemos que a violência de gênero é grande e complexa e que atravessa todas as esferas de nossa vida. Por isso, transformar esta dimensão nas universidades implica transformar estruturalmente a educação, minando as bases do sexismo que reproduz, nas instituições educativas, a divisão sexual do trabalho, reforçando a associação de razão, poder e sucesso no mercado com o masculino e de emotividade, subordinação natural e precarização com o feminino. Neste sentido, não é nada casual que usemos a expressão “casa de estudos” para nomear as universidades, se vemos como estas replica, os papéis de gênero, constituindo assim uma extensão da casa heteropatriarcal na esfera da educação formal.

    A luta contra o patriarcado e contra a reprodução dos papéis de gênero é também uma luta contra a educação de mercado, pois as carreiras feminizadas, associadas aos trabalhos de cuidado, crianças e empatia, são precisamente as mais precarizadas, enquanto que as carreiras tipicamente masculinas são as mais valorizadas socialmente, as mais exitosas no mercado e as que contam com maiores recursos. Isso segue reforçando a reprodução dos papéis de gênero e perpetua a violência contra os corpos feminizados. O feminismo, justamente, convida a desafiar essa reprodução e entender que não podemos lutar contra o patriarcado na educação sem lutar contra o mercado que reforça as assimetrias de gênero e que orienta as instituições educativas.

    Pensar a educação feminista significa pensar a democracia, a liberdade e a igualdade. Ideais que não são sinônimo de empoderamento individual e meritocracia sustentada em privilégios socioculturais e que tampouco podem ser tratados mediante a incorporação cosmética da “perspectiva de gênero” em cursos, programas de aperfeiçoamento ou formação continuada, capacitações ou outros mecanismos característicos da administração universitária neoliberal. Una educação feminista significa transformação desde a raiz, abarcando a ordem jurídica (mudança de estatutos a partir de uma ordenação feminista), igualdade substantiva (procedimentos de paridade, igualdade de salários, etc.), perspectiva teórica feminista para o questionamento geral do conceito de educação e de universidade, das disciplinas até as hierarquias. A educação feminista significa também retomar as bandeiras históricas da luta pela educação pública e insistir na educação como um direito social e na necessidade de financiamento direto às universidades públicas, para poder materializar um projeto educativo transformador e garantir condições de dignidade e igualdade trabalhista para acadêmicas/os e funcionárias/os, porque o feminismo contesta também a precarização do trabalho.

    O feminismo coloca em questão as hierarquias, os privilégios e as desigualdades, já que as assimetrias de poder e o caráter estratificado nos espaços sociais geram condições propícias para o abuso e para sua naturalização. Nesse sentido, a democratização das instituições educativas e o trabalho coletivo são condições de possibilidade para levar adiante a transformação de nossas universidades a partir de uma perspectiva feminista.

    As mobilizações estudantis que explodiram são uma rebelião contra a injustiça que os mandatos do gênero impõem no neoliberalismo. Portanto, o resgate da educação pública da captura do mercado sexista não passa por ter uma universidade mais neoliberal com “perspectiva de gênero”, e sim por derrubar as bases da educação mercantil-sexista para construir a partir do feminismo uma nova educação pública.

    Saudamos e apoiamos com entusiasmo as estudantes que levantaram este movimento e como deputada feminista, professoras universitárias, escritoras e intelectuais fazemos um chamado a assumir um papel ativo nesta mobilização, organizando-nos, criando espaços de discussão e nos articulando em uma aliança feminista ampla, que crie as bases de um novo pacto social por uma nova educação pública, democrática e feminista.

    Assinam:

    • Camila Rojas Valderrama. Diputada Izquierda Autónoma. Frente Amplio.
    • Beatriz Sánchez. Instituto de Comunicaciones e Imagen. Universidad de Chile.
    • Faride Zerán Chelech. Universidad de Chile.
    • Diamela Eltit. Escritora.
    • Nelly Richard. Crítica Cultural y Ensayista.
    • Alejandra Castillo. Filósofa feminista. Departamento de Filosofía. Universidad Metropolitana de Ciencias de la Educación.
    • Daniela López Leiva. Encargada Feminista Diputación Camila Rojas Valderrama.
    • Pierina Ferretti. Socióloga. Centro de Estudios Culturales Latinoamericanos Universidad de Chile – Fundación Nodo XXI.
    • Camila Miranda. Directora Fundación Nodo XXI.
    • Carolina Olmedo Carrasco. Universidad Alberto Hurtado. Directora Fundación Nodo XXI.
    • Yesenia Alegre Valencia. Socióloga. Universidad Viña del Mar. Red de Académicas Feministas de Valparaíso.
    • Leticia Arancibia Martinez. Pontificia Universidad Católica de Valparaíso. Red de Académicas Feministas de Valparaíso.
    • Gloria Caceres Julio. Pontificia Universidad Católica de Valparaíso. Red de Académicas Feministas de Valparaíso.
    • María Angélica Cruz. Universidad de Valparaíso. Red de Académicas Feministas de Valparaíso.
    • Mónica Iglesias. Instituto de Sociología. Universidad de Valparaíso. Red de Académicas Feministas de Valparaíso.
    • Patricia González San Martín. Facultad de Humanidades. Universidad de Playa Ancha. Red de Académicas Feministas de Valparaíso.
    • Tania de Armas Pedraza. Directora Departamento de Sociología Universidad Playa Ancha. Red de Académicas Feministas de Valparaíso.
    • Sonia Reyes Herrera. Instituto de Sociología Universidad de Valparaíso. Red de Académicas Feministas de Valparaíso.
    • Lorena Zuchel Lovera. Departamento de Estudios Humanísticos UTFSM. Red de Académicas Feministas de Valparaíso.
    • Jeanne Hersant. Departamento de Sociología Universidad de Playa Ancha. Red de Académicas Feministas de Valparaíso.
    • Alejandra Ramm Santelices. Universidad de Valparaíso. Red de Académicas Feministas de Valparaíso.
    • Claudia Montero. Instituto de Historia y Ciencias Sociales Universidad de Valparaíso. Red de Académicas Feministas de Valparaíso.
    • Maribel Ramos Hernández. Departamento de Sociología Universidad de Playa Ancha. Red de Académicas Feministas de Valparaíso.
    • Marjorie Mardones Leiva. Facultad de Ciencias Sociales. Universidad de Playa Ancha. Red de Académicas Feministas de Valparaíso.
    • Pamela Soto Vergara. Psicóloga. Universidad Andrés Bello.
    • Luna Follegati Montenegro. Historiadora. Universidad Metropolitana de Ciencias de la Educación.
    • Rosario Olivares. Departamento de Filosofía. Universidad Alberto Hurtado.
    • Carolina Avalos. Facultad de Filosofía y Humanidades. Universidad Austral de Chile.
    • Lelya Troncoso. Trabajo Social. Universidad de Chile.
    • Mia Dragnic. Socióloga. Maestra en Estudios de Género. Universidad de Chile.
    • Caterine Galaz. Trabajo Social. Universidad de Chile.
    • Hillary Hiner. Escuela de Historia. Universidad Diego Portales.
    • Laura Albornoz Pollmann. Departamento de Derecho Privado. Universidad de Chile.
    • Daniela Marzi. Universidad de Valparaíso.
    • Javiera Arce. Universidad de Valparaíso.
    • Isabel Piper. Psicología. Universidad de Chile.
    • Paula Quintana. Instituto de Sociología. Universidad de Valparaíso.
    • Antonella Marín. Instituto Arcos Viña del Mar.
    • Paula López. Instituto Arcos Viña del Mar.
    • Eloid Chabaud. Instituto Arcos Viña del Mar.
    • Ana Luisa Muñoz. Profesora de Historia e Investigadora.
    • Claudia Rojas Necuhual. Facultad de Economía y Negocios. Universidad de Chile.
    • Ana Traverso. Facultad de Filosofía y Humanidades. Universidad Austral de Chile.
    • Karen Alfaro. Facultad de Filosofía y Humanidades. Universidad Austral de Chile.
    • Mónica Peña. Facultad de Psicología. Universidad Diego Portales.
    • Ariadna Biotti Silva. Archivo Central Andrés Bello. Universidad de Chile.
    • Javiera Carmona Jiménez. Universidad de Playa Ancha.
    • María José Yaksic. Magíster en Estudios Latinoamericanos. Universidad de Chile.
    • Ximena Azúa. Facultad de Ciencias Sociales. Universidad de Chile.
    • Daniela Jara. Instituto de Sociología. Universidad de Valparaíso.
    • Carolina Benavente Morales. Centro de Investigaciones Artísticas. Universidad de Valparaíso.
    • Javiera Robles Recaberren. Doctoranda en Historia. UNLP/IIGG-CONICET
    • Karin Berlien Araos. Departamento de Ingeniería Comercial. Universidad de Valparaíso.
    • Pamela Jaime Elías. Profesora de Historia.
    • María Isabel Puerto Perez. Abogada. Docente Universidad de Valparaíso.
    • Verónica Francés. Arquitecta. Centro de Investigaciones artísticas. Universidad de Valparaíso.
    • Carolina Andrade Amaral. Encargada Oficina Comunal Diversidades Sexuales y Docente en Violencia de Género. Universidad Andrés Bello.
    • Sara Avalos Urtubia. Profesora de Historia y Geografía. ONG Contra de Reñaca Alto.
    • Sandra Rojas Cáceres. Trabajadora Social. Universidad de Viña del Mar y Universidad de las Américas.
    • Ana Gálvez Comandini. Historiadora. Universidad Metropolitana de Ciencias de la Educación.
    • Alejandra Zuñiga Fajuri. Escuela de Derecho. Universidad de Valparaíso.
    • Marcela Díaz Rebolledo. Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales FLACSO Chile.
    • Sofía San Martín Moreno. Socióloga. Universidad de Playa Ancha.
    • María Soledad Vargas Carrillo. Pontificia Universidad Católica de Valparaíso. Directora Magister en Comunicaciones.
    • Lina Marín Moreno. Universidad de Valparaíso.
    • Nico Mazzucchelli. Trabajadora Social. Académica Universidad de Viña del Mar y Universidad de Valparaíso.
    • Nicole Cisternas Collao. Socióloga.
    • Carolina Pinto. Socióloga. Académica Universidad de Viña del Mar.
    • Claudia Espinoza. Universidad de Valparaíso.
    • Tamara Ortega Uribe. Socióloga. Universidad de Playa Ancha.
    • Camila Arriagada B., Unidad de Control de Proyectos Universidad Técnica Federico Santa María
    • Claudia López, Departamento de Informática y Observatorio de Género en Ciencia e Ingeniería UTFSM.
    • Paulina Santander Astorga, Departamento de Industrias y Observatorio de Género en Ciencia e Ingeniera UTFSM.
    • Marianna Oyanedel, Departamento de Estudios Humanísticos UTFSM.
    • Aldonza Jaques, Departamento de Ingeniería Química y Ambiental UTFSM
    • Marcela Prado Traverso Facultad de Humanidades, Universidad de Playa Ancha
    • Francesca Iunissi, Facultad de Ingeniería, Universidad de Playa Ancha
    • Karen Alfaro, Facultad de Filosofía y Humanides, Universidad Austral de Chile
    • Ana Traverso, Facultad de Filosofía y Humanidades, Universidad Austral de Chile
    • Paola Bolados, Instituto de Historia y Ciencias Sociales, Universidad de Valparaíso.
    • Karina Marambio Guzmán, Escuela de Psicología. Universidad de Valparaíso.
    • Esperanza Díaz Cabrera, Profesora de Historia, Magíster en Historia.
    • Verónica Figueroa Huenchu. Instituto de Asuntos Públicos. Universidad de Chile.
    • Paulina Vergara Saavedra. Instituto de Asuntos Públicos. Universidad de Chile.