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  • Notas sobre Monocultura – investigações I

    encontro 22/10/2020

    \”A empresa monocultora foi o motor da expansão europeia. As chamadas plantations produziram a riqueza – e o modus operandi – que permitiu aos europeus dominarem o mundo. Fala-se em tecnologias e recursos superiores, mas foi o sistema de plantation que tornou possível as frotas marítimas, a ciência e mesmo a industrialização. As plantations são sistemas de plantio ordenado realizado por mão de obra de não proprietários e direcionados à exportação. As plantations aprofundam a domesticação, reintensificando as dependências das plantas e forçando a fertilidade. Tomando de empréstimo da agricultura de cereais promovida pelo Estado, investiu-se tudo na superabundância de uma só lavoura. Mas faltou um ingrediente: removeu-se o amor. Ao invés do romance conectando as pessoas, as plantas e os lugares, os monocultores europeus nos apresentaram o cultivo pela coerção\” A. Tsing

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    tomar a imagem da monocultura a partir das diferentes figurações e construir uma paisagem comum sobre a monocultura: o que estamos falando ou estamos vemos quando pensamos em monocultura? Quais são seus elementos constitutivos? 

    Lembrei do Hijikata Tatsumi. Era dançarino de Butô ou Ankoku Butô (\”dança das trevas\”). Aí, num dos diários dele, cacei uma citação agora: \”É dito que Deus não existe no Japão, mas o que substitui Deus, por exemplo, é a vida cotidiana – ela existe ao nosso redor e os japoneses são capazes de captá-la. Só não se deve enganar o cotidiano. E os japoneses são dotados de uma capacidade de lidar com esse conflito (…). O conceito de carne é anárquico entre os japoneses\”(HIJIKATA apud UNO, 2018:138). 

     
    a carne é o excesso. excesso e desobediência ao corpo orgânico/biológico 


    Quem escreve sobre Tatsumi Hijikata é o filósofo Kuniichi-Uno, amigo do dançarino de Akita, última província antes da ilha de Hokkaido. Hijikata emigra para Tóquio no contexto dos deslocamentos de camponeses, agricultores e povos indígenas do norte do Japão para as províncias industriais. Deslocamento marcante no início período Meiji até os anos do pós-guerra. Em Tóquio ele se envolve com os movimentos filosóficos  e cria o butô, uma metamorfose contínua do corpo. Hijikata tinha características étnicas dos povos do norte do Japão: o que o fazia ser tido como um \”caipira\” em Tóquio. Citação do diário de Hijikata, sobre o processo de uma coreografia que chamou de Dançarina Doente: \”Em 1938, nas regiões de monocultura do nordeste (Tôhoku), existia uma espécie de oclusão anal. O grito (das crianças) estava silenciado na cultura preservada. Esse grito é um acompanhamento importante de minha dança hoje. Foi um grito primitivo do qual eu posso rir, hoje, após doze anos de vida em Tokyo. Eu saboreio esse grito e o fundo de gestos ritualizados através das minhas observações da vida cotidiana. Eu invento os passos moldados de nossos dias a partir da terra negra onde dançar não é voar. Meu mestre de dança é a terra negra do Japão\” (HIJIKATA apud UNO, 2018: 33).   


    traz a lembrança de como somos pensados pelas bactérias. De como o intestino é um segundo cérebro,  o lado visceral da gente. E na boca vai mastigando cada vez menos sabores. Paragens no paladar. Paragens na pluralidade de alimentos possíveis advindas da Revolução Verde. Um mundo preenchido de pasto, soja, milho, cana, trigo e mais meia dúzia de plantas industrializadas até em sua genética. A monocultura dentro do boca reduz as possibilidades da flora intestinal. 

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    A monocultura produzindo monotonias paisagísticas. Plantação de paisagens monoculturais. Nuvens de fuligens. Nuvens de gafanhotos. A civilização como projeto de eliminação de diversidades. Ruralidades industrializadas. A voracidade do capital e a voracidade dos gafanhotos. Os parasitas do capital financeiro produzindo uma imensa biodiversidade de vírus mortais. A eliminação das últimas áreas selvagens do mundo pela lógica tautológica do cifrão. A subida da bolsa e a queda do céu.

    Kopenawa aplica rapé em Marx.

    Audio 1: https://www.tramadora.net/wp-content/uploads/2020/10/Juliana-sobre-arvores.ogg

    Dizer uma palavrinha sobre a questão das árvores trazida pela Ju a partir da leitura que ela está fazendo da queda do céu. Ela retoma a insistencia de kopenawa das capacidades perceptivas e de como temos uma percepcão reduzida.  Há uma polifonia interessante no grupo: a ancoragem do corpo, a questão da música.     

    A gente vive um estado da arte – falo sobre a arte do sistema – que faz a gente viver uma plantation cultural (por parte das instituições), vivemos também pela digitalizacão da cultura. A monocultura traz algo muito forte, e que é seminal para seu funcionamento que é a separação da natureza e da cultura. Essa separação nos fez colocar uma coisa em detrimento da outra e não em relação à outra. A diversidade cosmopolítica que estamos colhendo aqui está no mundo, mas nosso corpo não expressa, pois nosso core/código o separou de tal forma que nos faz construir um mundo tal como ele se coloca. 


    Por mais que imaginemos outras possibilidades, não praticamos essas possibilidades. Eu revoltei quase como um furacão como não favorecer essa monocultura?        

    É gostoso ouvir tanta gente diferente. Pensar as dimensões da monocultura [ agora, aqui em casa, acaba de acontecer um ataque terrorista da cigarra sobre um cachorro que se compôs junto com a fala do Gustavo] Quando a gente começou a achar que os insetos são menores do que a gente? Quais as árvores que são menores que a gente?

    Porque a monocultura tem um certo silêncio. A floresta produz uma paisagem sonora muito mais rica que a da monocultura. 

    mesmo  os \”regionalismos linguísticos\” como uma resistência às monoculturas

    >> Um exercício: trazer outras vozes e outros silêncios como um exercício de quebrar monoculturas de comunicação, de produção de conhecimento.

    Audio 2: https://www.tramadora.net/wp-content/uploads/2020/10/Marcelo-audio_2020-10-22_17-33-33.ogg

     

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    Pensar no Mario, personagem do jogo da Nintendo, ele vive num reino dos cogumelos, um reino independente que está sob o perigo de ser dominado pelo Bowser – uma tartaruga desenvolvimentista que quer fazer uma monocultura de cogumelos.

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    Como delimitar o que seria a monocultura? Como chegamos num exercício de uma monocultura em comum?

    Pensei na ideia de hapticidade do Moten e Harney que tem a ver com a pele, com o que sentimos. A pele é o contrário do cérebro, o cérebro é uma monocultura do pensamento. A pele é o maior órgão do corpo que está sendo usado apenas para tocar telas (touch-screen). Como ser mais superfície e menos volume? A dança é o pensamento do corpo, e se a gente pensa com o corpo, nosso pensamento seria dançado. A questão da contraposição entre volume e superfície para mim é uma questão que esbarra no tempo. 

    O que é monocultura me fez pensar na monocultura a partir da Vandana Shiva. Ela diz que é uma ideologia dominante que opera para dar cabo às várias formas de diversidade. Ela conectou com a ideia de corpos que não são mais capazes de dar o grito do butô. Ela recomendou um livro do João Barbosa Rodrigues – um dos precursores na defesa dos conhecimentos indígenas. Esse é um  exemplo da expropriação dos commons.          

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    Fiquei pensando na monocultura como uma cultura do mono. O que a gente perde quando não consegue mais se acocorar? A gente consegue rastejar? Consegue ser cobra? Ser macaco? Retomar o primata.                               

    >> Um exercício: Usem os livros como apoio para os calcanhares, um apoio para acocorar.  A gente acha que tá aprendendo, mas na verdade tá desaprendendo a ficar de cócoras.    

                                        
    Lembrar: O pensamento selvagem é aquele que se recusa a se tornar recurso.

    Audio 3: https://www.tramadora.net/wp-content/uploads/2020/10/Bru-audio_brutalismo.ogg

         
    Quero retomar um pouco a proposicão inicial de habitar uma paisagem comum entre a gente.  Possibilidade que potencializa as diferenças. Máquina abstrata de correlação.  Quando apareceu a monocultura para essa discussão, isso me gerou um curto-circuito. O que tem me interessado são os modos de percepção: massificação de um conjunto de tecnologias, os  regimes de sensibilidade em relação aos diferentes arranjos tecnológicos. Quando a gente passa a falar das BIGTEC de comunicação digital, elas são um grande éter mundial de mediação de uma monocultura. Junção de uma arquitetura material e de linguagem: é o semiocapitalismo. Nisso, a questão do imaginário é outra camada que está colocada: que imaginação é ainda possível?

    A internet é uma baita de uma monocultura: tudo feito de 0 e 1.

    Lembrou de um filme Life Out of Balance que tem várias imagens sobre monocultura: aceleração da imagem das pessoas saindo do metro junto com imagens de salsichas sendo produzidas.   

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    Isso de fazer da cócoras uma imagem de pensamento, uma localização de pensamento. Nos leva a pensar o que seria produzir um modo de existência próximo ao chão. A gente tem que ficar de cócoras quando vai mexer na terra, nas plantas.

    Acocorar também é um processo narrativo: lembro da minha batchan, que ficava muito de cócoras. Ela passava muito tempo de cócoras e tinha uma hortinha. Ela tinha um modo de dizer das coisas que era um jeito muito cotidiano mesmo; inclusive nos trejeitos dela de contar dos aspectos não humanos da ancestralidade de todas as coisas: toda a proliferação de coisas das quais somos ancestrais. A gente é ancestral dos insetos que foram encontrados na folha de alface, do mofo, de todos os lixos, das coisas que a gente cheirou, passou a mão. Somos ancestrais das roupas das pessoas que esbarramos no metrô. A gente é ancestral até do que a gente caga. A ancestralidade é mais do que uma genealogia. Mas é preciso  pensar no cotidiano, pensar agachado,  matutar abaixada, como fazia a minha batchan.

    A plantation opera com dois dispositivos: (1) cultivo como coerção, como imobilização, como impedimento do tempo livre; (2) a casa como dispositivo de produção de um corpo heterossocial. As mulheres brancas são convocadas a manter a pureza do lar, de garantir a separação entre o dentro e o fora – a pureza do lar é a própria pureza da raça no caso da plantation. A casa produz o corpo doméstico que está separado do fora.      

    o corpo é político

    A separação entre público e o privado precisa ser criticada. Lembra da Calibã e a Bruxa e o livro da Carolyn Marchant, The death of nature.   As imagens compartilhadas transmitem um quê de desorientação, desorientação programada, um bloqueio das percepções. Como seria retomar a fugitividade presente nas plantations? A plantation tem medo da festa, do encontro, da produção do tempo livre.  

    lembrando da Val Plumbwood, no olho do crocodilo\” A negação excepcionalista de que nós somos alimento para os outros se reflete em muitos aspectos de nossas práticas convencionais de morte e sepultamento – o caixão forte, convencionalmente enterrado bem abaixo do nível de atividade da fauna do solo, e a laje sobre a sepultura para evitar que qualquer coisa nos desenterre, supostamente evita do corpo humano se tornar alimento para outras espécies. \”(…)Para um ecológico, materialista animista, no entanto, a vida após a morte é uma presença ecológica positiva, pois possibilita deixar traços positivos na vida de outras espécies – não uma história, mas a continuidade da história.\”

           

    sobre a instalacão de fábrica da Ford na Amazônia. Tem uma fala do H.Ford: ele via essa floresta e ficava perturbado pela disposição das árvores. Enquanto as monoculturas de pinheiros, todas ordenadas, lhe dava conforto.

    Peter Webe: Cada pessoa quando entra na floresta é atraída por uma árvore, por uma forma, por uma coisa diferente. 

    Lembrar das brincadeiras (de imitar bicho) e do maracatu, quem toca maracatu é brincante.          

    O que vem junto com a monocultura? Eu trabalhei 5 anos em uma empresa de desenvolvimento de tecidos. A monocultura é algo frágil e há um aparato para manter a fragilidade através da criação de vazios. Mas vazios envenenados que é tolhido de possibilidades. Precisamos pensar nas Terminators: sementes que não se reproduzem.   Desde o começo do plantio, quando você tem que limpar a terra — e o que se faz hoje é envenenar a terra — o que se produz é um vazio que não é uma miríade de possibilidades, mas um vazio envenenado, um vazio tolhido de possibilidades, um vazio que é todo recortado. Conforme as plantas vão crescendo, o vazio de possibilidades precisa ser perpetuado para que seja mantido uma possibilidade única — estou imaginando aqui a soja tratada com glifosato — e os mecanismos para se manter esse vazio de possibilidades são inúmeros, desde a aplicação de uma molécula química, desde o gene inserido para gerar uma variedade particularmente resistente a esse ambiente, que vai tolerar esse ambiente, que vai possivelmente não permitir a reprodução de outras espécies, como dos insetos que não vão conseguir se alimentar daquela planta. E não só antes e durante a colheita, mas após ela, também se aplicam produtos que vão inviabilizar que no solo que permanece seja plantada qualquer coisa que não aquela que estava plantada antes. É isso, eu vejo um monte de esforços no campo da ciência da agricultura para produzir esses vazios, pois é uma condição necessária para produzir o mono. A monocultura precisa desse vazio condicionado para esse único.

    Um dos problemas que estou pensando no doutorado é a possibilidade de reemergência de um mundo mapuche que foi destruído ou deixado em ruínas pela colonização e, entre outras coisas, isso passa por discutir o retorno dos bosques e das florestas nativas em terrenos que tinham sido cooptados por colonos e por empresas de capital internacional. Então, a primeira coisa que gostaria de pensar com vocês aqui, é esse uso da palavra monocultura que permite que a gente utilize a ideia de cultura com esse duplo sentido: como algo que diz respeito à diversidade humana quanto também à diversidade de seres não humanos. Em ambos os sentidos da ideia de cultura, ainda lidamos com o problema do controle. Assim, falar de monocultura para mim é necessariamente falar da substituição de um regime de diferenças por um regime de controle e isso é super interessante, pois se conecta bem com um dos pontos que tinha sido levantado: que a agricultura, no estilo monocultura, não é uma invenção banal, ela foi inventada pelas mesmas pessoas que inventaram coisas como o estado. Porque, justamente, em ambos os sentidos, isso tem a ver com a ideia de produzir equivalências entre as diferenças para poder controlar os regimes de proliferação fazendo com que as pessoas não encontrem caminhos para se proliferar ou encontrar escapes. Partindo desse lugar de trabalho e de pensamento com companheiros no sul do Chile, dos Mapuche, acho importante, sim, falar em linhas de fuga, de possibilidades, de falar de algum modo de resistir. Mas também de reconhecer que os custos dessas linhas de fuga e dessas resistência são assimétricos, desequilibrados. Tem uma socióloga boliviana, a Silvia Rivera Cusicanqui que diz que adora quando fica lendo coisas sobre decolonialidade, sobre descolonização, pois o lugar de quem fala na academia é um lugar pouco custoso de transformar esse lugar da resistência, da linha de fuga, num lugar para pensar. Ela diz que a produção dessas coisas efetivas da linha de fuga, da resistência, precisa ser feita na prática. Como a gente faz isso?

       

    A Terra sendo  perseguida pelo homem: isso é a plantation. 

    Abigail Campos Leal provoca: o que é pensar alianças quando a gente recusa o lugar da humanidade? Será que temos sempre que aceitar a figura do humano como ponto de partida? podemos existir de outros modos que não o modo humano?  É importante pensar a ideia de limpeza quando pensamos nas monoculturas. As agroflorestas produzem podas para que pedaços caiam no chão. 

    No livro do Ailton Krenak, “Ideias para adiar o fim do mundo”, quando ele fala que a ideia de krenak não é exatamente a ideia de humano como concebemos, mas sim uma formação entre cabeça (kre) e terra (nak) — os Krenak, aqueles que se chamam “nós, os Krenak”, são “nós, cabeças-terra” —. Aí ele fala sobre justamente como no momento que a gente transforma as montanhas e os rios em natureza, a gente acaba transformando essas coisas em recursos passíveis de serem espoliados. E por que ele tá dizendo isso? Porque para o nosso regime o humano faz parte de um conjunto de problemas, enquanto rios e montanhas são parte outro conjunto de problemas. Acho isso superinteressante, porque, no fundo, tem uma concepção de ser gente que não tem a mesma preocupação que a ideia de humano e, no entanto, o que a monocultura faz, é transformar os índios em humanos. Assim, quando falamos sobre regimes de sensibilidade, regimes de percepção precisamos lembrar também dessas outras formas de se ser gente.

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    Helio Oiticica: devolver o corpo a terra. devolver terra ao corpo.

    lembrar: as ocupações que mais crescem no mundo, em termos de trabalho mal-remunerado e subalternizado são os trabalhos  da indústria da limpeza e os de segurança.

    pensar: a imagem de uma fruta com terra, minhocas – nada aí parece limpo mas é ao mesmo tempo cheio de vida, de possibilidades

    Quando penso em monocultura penso no algodão e daí podem surgir as tramas, os tecidos.        

    Quero retomar a perspectiva do conflito. Estamos falando de uma guerra de mundos. Os projetos de monoculturas são projetos de morte, de uma morte coletiva.         

    Como os parasitas operam controle populacional (contra a monocultura). O fim e a diversidade.

    Eben Kirksey (imagem do parasita de Serres) Parasita como gerador de diversidade; Cordíceps e as formigas-cipó… diferentes tipos de cordíceps:        https://youtu.be/6B2tfDg4BJk         

    Que fim e que morte opera na monocultura e nas culturas da multiplicidade/diversidade? Quais recursos que as espécies tem pra evitar seu fim?
            

    cigarra e criaturas que atravessam e interrompem ou mudam o curso da conversa    
           

    MONO    

    MASTOZOOLOGIA•MAMÍFERO

    design. comum aos macacos em geral e, em particular, aos primatas antropoides, destituídos de cauda e dotados de longos braços, como o chimpanzé, o orangotango, o gorila e os gibões

    MASTOZOOLOGIA•MAMÍFERO

    m.q. MURIQUI  (Brachyteles arachnoides )

    BRASILEIRISMO•BRASIL

    m.q. RENDEIRA ( Manacus manacus ).

    Angelina Peralva

    Aline Souza

    Gustavo Torrezan

    Teresa Siewerdt

    Bru Pereira

    Juliana Meira

    Glauco Gonçalves

    Leonardo

    Marcelo Jungmann

    Maria Morita

    Marina Guzzo

    Danilo Zampronio

    Lucas Maciel

    Alana Moraes

    Henrique Parra

    Jessica Paifer

  • Monocultura

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    Link para sala – 22/10 – 19hs:

    Em nosso ultimo encontro conversamos sobre a realização de uma pesquisa e publicação coletiva e discutimos uma proposta de organização para os próximos 5 encontros. A seguir, apresentamos um possível roteiro para esta caminhada investigativa a partir do que emergiu neste último encontro.

    Desejamos aproveitar os encontros virtuais como momentos de criação e discussão coletiva, para adensar nossas pesquisas a partir das práticas de conhecer que caracterizaram a Zona de Contágio: um laboratório de investigação e produção coletiva; interpelada pelo acontecimento pandêmico, feito a partir de muitas experimentações que atuaram nos limites das nossas formas de produzir conhecimento, nas impossibilidades-possibilidades da produção de uma presença diante da tela, na confluência de uma ciência dos dispositivos e de uma ciência das retomadas.

    Para cada encontro teremos a ativação de uma trama investigativa inspirada por uma noção disparadora. Essa trama é feita das diversas perspectivas que alimentam nossa experiência em torno dessa noção e que possam constituir fios investigativos sobre o acontecimento pandêmico. É uma trama feita de corpos-territórios-saberes-poderes-tecnologias; na descrição dos dispositivos de poder e das diversas práticas de esquiva, alianças, ritmos e suas encruzilhadas.

    Pensamos que cada noção, em cada encontro, será disparadora de criações individuais e coletivas que irão compor a publicação, mas também poderão alimentar outras obras de autoria múltipla feitas de muitos fragmentos (novos ou reapropriações de trabalhos que compuseram o percurso da Zona de Contágio).

    Para este encontro da próxima quinta-feira (22/10) ativaremos uma primeira trama em torno da noção de Monocultura.

    Link para sala – 22/10 – 19hs:

    Até lá queremos trocar materiais que possam compor o encontro: imagens, textos, outras pesquisas, áudios, vídeos, conversações, artefatos que possamos seguir desdobrando em criações até a ativação da próxima trama. Para essas trocas mais ágeis que compõem os encontros podemos utilizar a lista de email ou o grupo do telegram:

    Enviaremos aqui também um link para o drive que servirá como repositório de materiais (fragmentos, rascunhos ou criações finalizadas) para a investigação coletiva e a publicação final:

    Como seguir criando perguntas e narrativas que habitem a Pandemia Covid19 com a radicalidade que ela nos força a pensar, mantendo a abertura e a vibração deste acontecimento? Como investigar coletivamente resistindo à paralisia das formas institucionais de pesquisa, nos aliando com lutas e movimentos da vida e da terra que não estão na universidade?

    Desejamos que o exercício criativo seja inspirado pelos afetos que constituímos e que sustentaram a formação desse coletivo improvável e implicado em problemas comuns. Queremos insistir na experimentação ontoepistemológica que atravessou a realização de todos os nossos encontros e pretendemos que essa publicação dê consistência a este corpo-sensor-coletivo capaz de deslocar a política do sensível, criando outras condições de sensibilidade, percepção, objetividade e análise. Neste fazer, outros fatos e evidências são fabricadas simultaneamente à constituição do laboratório enquanto uma comunidade política e epistêmica temporária.

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  • O que pode uma ciência terrana diante do fim do mundo como conhecemos?

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    um convite à investigação coletiva face ao acontecimento pandêmico

    LiNK para Sala Virtual: 08/10 – 19hs: https://meet.google.com/yin-oiau-wjw

    Durante os últimos seis  meses na Zona de Contágio, produzimos um espaço de reflexão, intercâmbio de experiências, circulação de textos, relatos e perspectivas face à emergência pandêmica. Como Laboratório de experimentação (onto-epistêmica e política) a Zona de Contágio vem se constituindo como um lugar de confluência entre pesquisadores, criadores e todas interessadas na Guerra das Ciências, nos novos embates e controvérsias que se relacionam com as tecnologias na produção de mundos, política e natureza, mas também nas lutas e práticas de conhecimento do mundo por vir.

    Orientados por dois grandes eixos: Ciência dos Dispositivos e Ciências de Retomada, pensamos sobre a reorganização dos poderes tecnototalitários e algoritmizados das nossas vidas, casas, universidades e cidades no que diz respeito ao \”isolamento social\”, trabalho remoto, \”educação à distância\”; domesticidade e o conjunto de relações que nos constitui; Refletimos também sobre produção de saberes e conhecimentos não proprietários que se voltam à terra, ao ritmo, ao corpo, às muitas formas de cooperação para pensar, produzir e sustentar tecnologias do Comum nos interstícios do Capitaloceno e sua tecnopolítica.

    Nos próximos quatro meses (6 encontros), e a partir dos experiências e conhecimentos que tivemos nesse período, gostaríamos de nos concentrar na sistematização e produção de uma investigação coletiva que possa se desdobrar em uma publicação (on-line). 

    A idéia é que cada pessoa (ou mais de uma) poderá propor e realizar um ensaio-investigativo para compor a publicação final. Pensamos em algo simples, curto, e que não conflita com todos os outros trabalhos e tarefas que já temos que dar conta, mas que expresse o encerramento de um ciclo de trocas e pensamentos que experimentamos na Zona de Contágio.

    Partiremos de uma pergunta comum: 
    O que pode uma ciência terrana diante do fim do mundo como conhecemos?

    A cada encontro, gostaríamos de adensar esse processo pensando juntas as etapas que compõem a fabricação do conhecimento coletivo face ao acontecimento pandêmico: definição de eixos temáticos; formas de pensar problemas e como permanecer um pouco mais com eles; modos de interrogar as formas modernas de separação entre sujeitos e objetos  no que diz respeito à produção de conhecimento. 
    Como a experiência pandêmica nos força a pensar? Como ela interroga e transforma o quê e como conhecemos? O que pode ser uma ciência que perturbe e desloque tanto as formas de produzir \”pensamento crítico\” a partir de \”denúncias\”, quanto as formas de produzir ciência como verdades incontestáveis. Também desejamos experimentar a confusão de fronteiras disciplinares (\”ciências da natureza\”, \”ciências sociais\”; \”ciências humanas\”). Desejamos refletir sobre pressupostos científicos como controvérsias: afinal, o que é um \”fato\”? ; Como produzir \”evidências\”? Como fazer da linguagem, do movimento e formas estéticas elementos fundamentais na produção e circulação de conhecimento? Como produzir uma ciência implicada e com habilidade de nos permitir responder às questões urgentes que nos interpelam? Como produzir uma ciência localizada que seja ao mesmo tempo incômoda aos poderes constituídos? Quais alianças ontoepistemológicas precisamos criar para produzir verdades cúmplices entre formas de luta e  produção de conhecimento capazes de assumir a guerra de mundos que vivemos?

    No próximo encontro, dia 8/10 às 19h, vamos discutir o percurso e adensar a pergunta inicial que move a investigação, como também pensar sobre novas perguntas que nos interessam nessa cartografia-investigativa.

    LiNK para Sala Virtual: 08/10 – 19hs: https://meet.google.com/yin-oiau-wjw

  • HABITAR UM FUTURO QUE NÃO REPETIRÁ O PASSADO

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    O mundo como uma imensa teia de coreografias de existências em que os seres constituem-se mutuamente e ao mesmo tempo constroem o futuro. Para alianças com aqueles que não pensam como nós, que não pensam como humanos, ou que não pensam, precisaremos ser, além de eticistas-bricoleurs, coreógrafos.

    No próximo encontro, dia 24/09 (19h), estaremos com Renzo Taddei, professor e pesquisador da UNIFESP.

    LINK para sala:

    A conversa pretende seguir tateando o mundo em que vivemos a partir das consequências ambientais-societais-biológicas da emergência do Antropoceno e como ele nos interpela em nossos modos de existência e regimes de conhecimento. Renzo propõe pensar a emergência do Antropoceno também a partir das \”transformações radicais na tecnosfera com o advento da inteligência artificial\”. Diante dos novos conflitos e possibilidades, Renzo convoca imagens sobre coexistência e coabitação que habitam os movimentos da dança:

    \”Vivemos em um momento no qual libertar humanos de seus grilhões através da denúncia deixou de ser suficiente (apesar de ainda necessário); é preciso participar dos processos de construção de mundos; isso necessita ser algo maior do que o humano\”

    A dança fala sobre movimento em equilíbrios sempre instáveis e impermanentes e \”talvez seja por isso que a dança tenha sido usada, em inúmeras culturas no decorrer dos tempos, como estratégia de conexão existencial entre coisas desiguais, como humanos e deuses, humanos e ecossistemas, humanos e animais, e humanos em situação de diferença (de gênero, por exemplo)\”. Pensar o mundo como tramas de coreografias de coexistência, simbioses e novos movimentos de futuro.

    textos de referência para a conversa:

    https://piseagrama.org/habitar-um-futuro-que-nao-repetira-o-passado/

    https://piseagrama.org/onde-aterrar/

    imagem: Calendário, série de Sara Ramo

  • Testemunho e Vidência: Observações (em nome próprio) sobre relações raciais na universidade

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    Link para a Conversação Febril – 10 de setembro às 19hs com o Uirá Garcia:

    Nossa próxima conversação febril será com Uirá Garcia, professor e pesquisador da UNIFESP. Uirá abrirá uma conversa sobre sua experiência como professor negro na universidade perseguindo caminhos de vidência, desviando das imagens hiper-saturadas. Seguimos pensando sobre tecnopolíticas de retomada – o que pode ser a produção do conhecimento? Como podemos imaginar uma universidade habitada por multiplicidades, saberes , corpos e lutas contra-coloniais? Quais imagens de pensamento se abrem?

    O cinema de vidência, para Deleuze, é aquele que nos dá a ver: nos permite ver o imponderado, o que hesita e excede. A vidência, para o filósofo, nos mostra “o tempo que sai dos eixos, e se apresenta em estado puro”; nos mostra \”a imagem inteira e sem metáfora, que faz surgir a coisa em si mesma, literalmente, em seu excesso de horror ou de beleza, em seu caráter radical ou injustificável, pois ela não tem mais de ser \’justificada\’, como bem ou como mal\” (DELEUZE, 1990, p. 31)

  • 9ª Mostra Ecofalante de Cinema [Ambiental]

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    Juliana Meira

    Entre os dias 12 de agosto e 20 de setembro, está acontecendo a 9ª Mostra Ecofalante de Cinema. Um “environmental film festival” promovido pela ONG Ecofalante junto a parcerias privadas e governamentais, mas que vem suprimindo a palavra Ambiental da chamada pública da mostra desde a 8ª edição.

    Podemos levantar algumas hipóteses acerca do efeito dessa mudança sobre financiamentos. Mas essas hipóteses não tiram de perspectiva, pelo contrário, evidenciam ainda mais o fato de que a noção de meio ambiente – por sua vez comumente associada à de natureza, ainda muito mais complicada – vem passando por tensões. Afinal, o que você associa a “Meio Ambiente”? E quais as sugestões que recebemos sobre essa noção pelo modo como ela é usada por diferentes pessoas, movimentos, instituições, processos educativos e etc? Quando faço essa pergunta, mesmo pessoas que tem uma perspectiva mais ampla sobre meio ambiente localizam lugares comuns como: “problemas ambientais”, “poluição”, “sustentabilidade”, “desmatamento e aquecimento global”, etc. Associações rasas, muitas vezes promovidas pela mídia e por um ambientalismo conservacionista europeu, do norte global, aos quais nem sempre resistimos a endossar. 

    Ainda assim, quanto mais nos envolvemos, mais nos damos conta de que não há aspecto da nossa vida que possa estar fora disso, que não se relacione com o espaço ao redor e assim o transforme de alguma maneira e seja por ele transformado, em períodos mais ou menos longos no tempo. 

    Categoria de envolvimento

    A Mostra Ecofalante como mostra de cinema ambiental, oferece a possibilidade de pensarmos meio ambiente não apenas como uma categoria mais ampla do que essas associações apontadas acima, mas de certa forma indica que Meio Ambiente é uma categoria que não foi de fato “fechada”. Ou seja, mantém abertura para continuar se transformando e servindo a propósitos epistemológicos e políticos diversos.

    Quais os “meios” de dizermos que sim, percebemos nossa indissociabilidade em relação a Terra, a indissociabilidade entre social e ambiental? Já que ainda que a cabeça se mantenha a maior parte do tempo no espectro cartesiano, nossos pés já queiram pisar o chão. As noções de socioambiental e sociobiodiversidade* demonstram essa situação limítrofe, ou transicional. 

    Assim, podemos criar novas categorias que funcionam como enxertos que continuam parte da “planta” como outra espécie, mas que permitem que a vida continue a atravessá-la mesmo na diferença. Mas também podemos continuar com a categoria de ambiental tornando aquele sentido, mais restrito e quase alheio ao social, como apenas um dos momentos da história desse conceito, de quando éramos um pouco mais ingênuos e não percebiamos que nossas ‘palavras’ poderiam criar e transformar paisagens inteiras.

    No segundo caso, a mostra é um exemplo do como já iniciamos outro ciclo de vida do conceito de meio ambiente. Os filmes da mostra estão organizados em programas que compreendem categorias como “Ativismo”, “Consumo”, “Economia”, “Emergência Climática”, “Povos & Lugares”, “Tecnologia” e “Trabalho”. Saúde, Religiões e Espiritualidade, Gênero e Habitação, por exemplo, são categorias não instituídas como programas da mostra. Mas que atravessam os filmes de outros modos. 

    Alguns dos filmes

    Um desses documentários que alargam o campo da noção de meio ambiente com diferentes temáticas, narrativas, outras formas de configurar os problemas ambientais, é Time Thieves – Ladrões do Tempo, de 2018 por Cosima Dannoritzer, –  mesma diretora de A história secreta da obsolescência programada (2010) e A tragédia do lixo eletrônico (2014) –  e fala sobre o tempo como recurso. Através de uma narrativa que conecta as tecnologias digitais e a monetização do tempo roubado no “faça você mesmo”, ou durante nossa movimentação nas redes sociais. Nos ciclos de produção industrial e consumos completamente dissociados dos ciclos de reprodução da vida, o tempo é roubado também. É o caso das linhas de processamento de frango nos EUA. 

    Se em algum momento podemos ver com naturalidade o fato de nós próprios realizarmos o nosso pedido e pagamento através de totens quando vamos a um restaurante fast-food e sequer percebermos que trabalhamos para o estabelecimento. Não é tão facilmente naturalizado para as pessoas que perdem sua saúde, seu bem-estar, dignidade ou até a própria vida por se verem obrigadas a trabalhar em condições onde, por exemplo, não podem sair de seu posto sequer para ir ao banheiro, pois as idas ao banheiro podem ser descontadas de seus salários. E mesmo talvez não sendo o foco do roteiro, está presente o fato de que diferentes grupos sociais, para não dizer classes, vivem essa relação com o tempo da produção e da eficiência de formas diferentes. Podemos notar isso durante a pandemia, onde muitas das pessoas em quarentena tiveram seu tempo roubado de uma forma completamente diferente dos trabalhadores do capitalismo de plataforma (motoristas, entregadores e etc.). 

    Por outro lado, Deus, coloca sua proposta em outras cores, sons e até outro idioma. É um filme chileno, de 2019, dirigido por Christopher Murray, Josefina Buschmann e Israel Pimentel. Um quase silencioso, com o texto menos direto e que deixa brechas ao fazer suas sugestões muitas vezes se utilizando apenas da sequência de eventos apresentados. Ele aborda a visita do Papa Francisco ao Chile em 2018. O filme mostra a preparação dos católicos e da cidade para a recepção do Papa, em meio à crise do catolicismo por um lado, e os evangélicos por outro. A agitação e o tempo da narrativa dada a esses grupos parece ser contrastada pelo tempo-espaço conferido às culturas tradicionais, colocadas como em continuidade com os recursos naturais,  povos da terra. A cena da mulher com as crianças falando sobre a interdependência entre nós e a água, é uma espécie de oásis de lucidez, pequeno e potente. O próprio nome do filme, assim no singular, diante do que ele apresenta, parece disparar uma série de questionamentos sobre a escolha dos diretores. É um filme que comunica por espaços não preenchidos por informações no tempo do filme, por contraste de materiais, detalhes do cotidiano, pelas sensações e incômodos.

    Há também uma diversidade em relação a como os filmes se aproximam ou se afastam do roteiro baseado na denúncia-solução. Como eles respondem direta ou indiretamente a uma sensação de “Então, e agora?”, “O que fazemos com isso, ou a partir disso?”… Penso que documentários acabam participando de modo mais ou menos explícito da formação de problemas socioambientais ou expressam enquadramentos para os mesmos que podem ter maior ou menor peso a partir do modo como são divulgados, dentre outras coisas.

    Alguns filmes, um pouco mais felizes e esperançosos, são sobre essas respostas, essas ações, como é o caso do curta de Cleisyane Quintino de 2019, Cerrado de Volta: a restauração da Chapada dos Veadeiros. Ali é apresentada a importância do Cerrado e o trabalho estratégico de reflorestamento em áreas de nascente, cabeceiras e leito dos rios que cercam as águas correntes que partem do centro para o resto do país. O projeto é  realizado pelo ICMBio junto à pesquisadores e às comunidades de moradores há mais de 10 anos. Há um centramento na fala de técnicos e analistas na composição do documentário, o que parece deixar um espaço em aberto sobre como o processo todo aconteceu pelos olhos de mais moradores. 

    Por outro lado, parece deixar brotar outras relações, como o modo que degradação e restauração possibilitam diferentes formas de envolvimento da população local, técnicos e analistas na configuração de redes junto à outros atores do Cerrado. Nesse caso, o projeto conectou diversas demandas e tipos de interesses, como por exemplo a demanda do projeto por pessoas para realizar a coleta manual de sementes para plantio direto, com a demanda imediata da população por renda, sem contar as demandas das diferentes formas de vida do próprio bioma em questão. As sementes diversas coletadas germinam ao longo do tempo, reestruturando os três estratos da vegetação nativa: árvores, vegetação arbustiva e as gramíneas, vegetação rasteira. Tudo isso é misturado com areia e terra fazendo a Muvuca, que é distribuída no solo com o auxílio de uma calcareadora, regulada por um especialista após longa pesquisa, para distribuir a exata quantidade necessária de sementes por metro quadrado. São muitas interconexões, saberes e práticas, muitos ajustes entre humanos, vegetais e materiais ao longo do tempo, que até o momento da gravação do documentário, resultaram em 105 hectares restaurados das áreas de pasto degradadas.

    Esses múltiplos agenciamentos muitas vezes invisíveis a quem não participa dos bastidores do processo é o que sustenta a narrativa do  filme O custo do transporte global, de 2016, de Denis Delestrac… Que aborda a imensa rede do transporte marítimo de mercadorias. Uma questão inicial guia sua investigação e seus registros: Como algo produzido em diferentes países ao redor do mundo, que atravessa oceanos, pode ser mais barato do que o que é produzido localmente?  A resposta apresenta inovações e desenvolvimentos tecnológicos incrementais que aconteciam há anos sem que nós percebêssemos de onde estamos. A pergunta de Delestrac esconde uma outra (ou pode ser traduzido como outra): Que abusos humanos e ambientais foram institucionalizados para que esses produtos fossem tão baratos? As “externalidades” que não compõem o custo final desse transporte, já que são pagas por trabalhadores, animais marinhos encalhados, pulmões inflamados, áreas degradadas, aquecimento global, e etc. Registros de navios em outras nacionalidades que não a de seus donos são vendidas como produtos em feiras como modo de transferir para fora das áreas que mais se “beneficiam” desse comércio, seu maior peso. E ainda que não exista fora do planeta, são os filipinos (a mão de obra mais barata) que passam a maior parte do tempo longe da família em navios realizando trabalho pesado em jornadas longas, não por acaso, mas porque seu governo atua num esquema que praticamente os dispõe como mercadoria. 

    No fim Delestrac acaba na etiqueta. Mas se a “tag” faz sentido para a narrativa que se fecha de modo circular, outros inícios poderiam ter sido escolhidos para não deixar quase que como única solução a atitude dos consumidores/clientes dos produtos finais.

    Antes tarde do que não

    São muitos filmes, debates, algumas matérias condensadoras, e uma oportunidade para repensar a categoria “ambiental”, talvez menos como recurso classificatório, mas como espaço onde determinado tipo de relações são estabelecidas. E desde o dia 31 de agosto estão também disponíveis os filmes do programa “Clássicos e Premiados”, com uma série de filmes brasileiros, dos quais muitos atravessam realidades indígenas. Confiram a mostra!

    *DIEGUES, Antônio Carlos. O mito moderno da natureza intocada. São Paulo: NUPAUB – Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre Populações Humanas e Áreas Úmidas Brasileiras – USP/Hucitec, 2008. /// Para embasar o conceito de sociobiodiversidade, Diegues parte da presença das comunidades tradicionais em áreas de preservação para mostrar como o ambientalismo europeu não pode ser importado para o contexto brasileiro e para a construção de políticas que orientam a gestão dessas áreas sem grandes problemas socioambientais.///

  • Onde aterrar? Saberes de retomada & ciências de um mundo por vir

    No próximo encontro (27/08), conversaremos com Lucas Keese e Valéria Macedo a partir das 19h

    A Zona de Contágio vem se constituindo como um lugar de confluência entre pesquisadores e todes interessadxs na Guerra das Ciências, mas também nas lutas e práticas de conhecimento do mundo por vir. No próximo encontro vamos falar sobre saberes de retomada e produção de conhecimento terrano – pensar os enlaces entre territórios de autonomia e universidades, possíveis tecnologias do Comum que possam fazer frente ao novo regime de extração e reconfiguração do mundo após (e durante) o acontecimento pandêmico.  

    Se os regimes hegemônicos de produção de conhecimento, ciência e tecnologia e as configurações atuais de suas instituições (universidades e escolas) são parte do problema que hoje enfrentamos (crise ambiental, covid-19, as muitas formas de reprodução do colonialismo, racismo e desigualdades intensificadas por certos arranjos tecnopolíticos extrativistas); quais seriam então os desenhos possíveis de outros modos de conhecer (e suas instituições) que apontem para rotas de fuga do capitaloceno-plantationoceno e das formas renovadas de dominação e extração? Que tipo de conhecimento somos capazes de produzir na contramão do “realismo político” e das novas estratégias de controle possibilitadas pelo capitalismo do desastre e suas novas cercas e profilaxias?  Como ativar, acompanhar e retomar as práticas do Comum, não proprietárias, que podem fazer frente às dinâmicas neocoloniais do \”screen new deal\” no plantationoceno diante da crise sanitária que finalmente nos faz constatar a indiscernibilidade entre \”ciências sociais\” e \”ciências naturais\” e os limites urgentes das nossas formas de vida? Como essa retomada pode também reconfigurar nossas agendas e institucionalidades de pesquisa, ensino e extensão perturbando as fronteiras das universidades e fazendo do conhecimento uma prática de encontros atravessada pelo mundo vivo?

    \”A nossa avaliação é que, neste exato momento, estamos vivenciando uma das maiores possibilidades de um fim desse mundo eurocristão, monoteísta, colonialista e sintético. Esse mundo está chegando ao fim. Não é à toa que estamos vivendo esse desespero, essa grande confusão. Mas, por incrível que pareça, estamos vivendo também uma nova confluência\”

    Antônio Bispo dos Santos
    texto disponível em: https://piseagrama.org/somos-da-terra/

    textos sugeridos:

    Somos da Terra de Antônio Bispo dos Santos: https://piseagrama.org/somos-da-terra/

    Tornar-se selvagem de Jerá Guarani: https://piseagrama.org/tornar-se-selvagem/

    (Micro)políticas da vida em tempos de urgência do Grupo de Pesquisa Cidade e Trabalho: https://www.reflexpandemia.org/texto-59

  • Investigações sobre a experiência escolar

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    Para quem perdeu o primeiro encontro ou está chegando agora no curso recomendo que comece por aqui para se situar: https://pt.wikiversity.org/wiki/Sociologia_da_Educação_na_Pandemia_Covid-19

    Leia também essas breves reflexões que escrevi apresentando o espírito do percurso do semestre:
    [1] Sociologia da Educação na Pandemia Covid-19 – experimentar presença: https://www.tramadora.net/2020/07/18/sociologia-da-educacao-na-pandemia-covid-19-experimentar-presenca/
    [2] Retomar o Per-curso: https://www.tramadora.net/2020/08/02/retomar-o-per-curso/

    Agora no início do curso serei um pouco redundante nas explicações. Como estamos lidando com muitas novidades nesse processo e acho importante criarmos um solo comum de entendimento da proposta.

    O conteúdo teórico do semestre está organizado em ciclos quinzenais temáticos.
    Teremos 5 tópicos distribuídos em 10 encontros. Toda semana há sempre alguma leitura básica indicada e textos complementares sugeridos. Em um ciclo quinzenal teremos, portanto, um primeiro encontro entre nós pra conversamos sobre textos, discutir, pensar em possíveis produções/criações. No segundo encontro, na semana seguinte, teremos uma aula ampliada (momento expositivo, apresentação de convidadxs, debates, etc).

    Neste primeiro ciclo nosso tema central é \”instituição escolar\”.

    Nesta semana, dia 12/8, estarei disponível pra encontra-lxs e poderemos conversar/discutir sobre os textos indicados; mas também refletir, imaginar e experimentar produções (coisas que podemos criar) que estejam relacionadas à temática \”instituição escolar\”.

    Na próxima semana, dia 19/8, teremos um encontro em que vamos explorar os conteúdos mobilizados pelas leituras indicadas para a quinzena (principalmente a bibliografia básica, mas também dialogando com a literatura complementar). Também queremos transbordar a discussão para além dxs autores/textos. Os textos serão disparadores da nossa reflexão sobre as relações entre o tema \”instituição escolar\” e a linha que articula nosso semestre: \”educação em tempos de pandemia\”.

    Também esperamos que até o dia 19/8 possamos fazer circular entre nós (através do grupo no Telegram ou postando um comentário no próprio site) algumas criações próprias ou materiais que vocês estejam coletando e que estejam relacionadas ao nosso curso. Neste link, por exemplo, vocês podem ver uma coleção de matérias que estou organizando: https://pt.wikiversity.org/wiki/Sociologia_da_Educa%C3%A7%C3%A3o_na_Pandemia_Covid-19#Links_selecionados:_Educa%C3%A7ao_em_tempos_de_pandemia

    Mas o que exatamente podemos criar, narrar? Vou dar algumas pistas pra cada um criar um rastro!

    O campo da sociologia da educação investiga e problematiza a instituição escolar e os processos educacionais sobre diferentes perspectivas. A escola, a maneira como ela organiza os processos educacionais, os seus efeitos, as diferentes concepções sobre os objetivos e os sentidos da educação, as concepções e os modos de subjetivação sobre o que é ser alunx ou professor, as formas de organização do trabalho…são alguns dos possíveis eixos de investigação sociológica ou antropológica sobre o fenômeno educativo.

    No contexto da pandemia Covid-19 há muitos processos de transformação em disputa no campo educacional. Nas situações de crise conseguimos, às vezes, visualizar processos que já estavam ocorrendo e que agora se tornam mais agudos e visíveis. É no momento de suspensão do cotidiano, que o \”normal\” e o \”natural\” de nossas rotinas educacionais se revelam como construções sociohistóricas minuciosas.

    Nós professorxs e estudantes no ensino superior, estamos experienciando muitas situações e também acompanhando discussões, conflitos e reconfigurações sobre a educação.

    O que você gostaria de narrar (com um micro-video, fotos, um pequeno ensaio, uma poesia ou uma música…) sobre a sua experiência com relação à educação na pandemia? De que maneira a situação pandêmica cria situações que fazem com que você sinta, perceba e analise de forma diferente algum aspecto ou dimensão da sua experiência na educação universitária?

    Vou compartilhar minha experiência: desde que foi definido que os cursos desse semestre seriam oferecidos de forma remota uma das questões que não pára de me atravessar é: o que pode ser uma aula? Ter que realizar uma aula em condições muito distintas me obriga a pensar sobre o que pode ser uma aula e todos os elementos que a caracterizam na minha experiência docente. Quando realizamos uma aula há uma certa concepção sobre o que é produção-transmissão de conhecimento; sobre quais os recursos, técnicas e métodos que podem ser mobilizados, sobre quais são as expectativas sobre as performances de estudantes e professores; sobre o sentidos da presença em sala, etc. Neste movimento e sendo forçado a lidar com uma nova realidade, passo a refletir sobre alguns aspectos constitutivos do ambiente universitário e outras perguntas surgem: o que é presença? como criar um encontro? como devemos lidar com o conteúdo/currículo prescrito? como criar um percurso coletivo? Como criar dinâmicas de produção coletiva de conhecimento que evitem os mecanismos de individualização da aprendizagem? Uma aula gravada é uma aula?

    Preparando o curso deste semestre, não paro de me surpreender com os achados na rede. Procurando o pdf de um texto do Basil Bernstein, trombei com essa exposição gravada (acho que é um projeto experimental) com o texto do Bersntein. Uma leitura feita com \”inteligência\” e voz artificial: https://www.youtube.com/watch?v=yQkZEPCKBpQ

    Agora, se um algoritmo pode fazer a leitura de um texto qualquer e se esse conteúdo pode ficar amplamente disponível como uma \”aula\”, isso nos obriga a pensar sobre o que é próprio ou específico de uma experiência de aula. O que acontece numa aula?

    Essas e outras perguntas me desafiam a investigar as práticas constituídas e ao mesmo a tentar inventar outras. Durante esse semestre, vou insistir em ficar com esse problema: \”o que pode ser uma aula?\”

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  • RetomaR o per-curso

    A palavra experiência vem do latim
    experiri, provar (experimentar). A experiência é em
    primeiro lugar um encontro ou uma relação com algo
    que se experimenta, que se prova. O radical é periri,
    que se encontra também em periculum, perigo.

    A raiz indo-européia é per, com a qual se relaciona antes de
    tudo a idéia de travessia. Em grego há numerosos derivados dessa raiz
    que marcam a travessia, o percorrido, a passagem:
    peirô, atravessar; pera, mais além; peraô, passar atra-
    vés, perainô, ir até o fim; peras, limite. Em nossas
    línguas há uma bela palavra que tem esse per grego
    de travessia: a palavra peiratês, pirata
    . (J.Larrosa)

    Iniciamos o curso Sociologia da Educação (Unifesp) na primeira semana de março. Lembro-me de conversar com os estudantes sobre as incertezas que se apresentavam diante de nós e os rumos do semestre. A pandemia covid-19 ainda era um problema que não havia nos atingido e as preocupações imediatas estavam mais concentradas nos ataques à universidade publica, nos cortes no financiamento da ciência e educação e na paralisação indicada para o dia 18 de março. Lembro-me de falar com xs estudantes que apesar das incertezas seriamos capazes de concluir o semestre. Incrível pensar em tudo que aconteceu desde então. Sinto que nossas vidas já não são as mesmas, o planeta já não é o mesmo. Então, como seguir com o mesmo curso?

    Na primeira aula do curso, antes da interrupção, lancei uma reflexão inicial sobre a relação Educação e Sociedade, inspirada em algumas colocações do Ailton Krenak em sua conferência realizada em Salvador no final de janeiro de 2020. Como imaginar que aquela reflexão sobre \”Como Adiar o Fim do Mundo?\” se tornaria tão urgente e amplamente difundida nesse mesmo ano? Há mais de 500 anos enfrentando o fim do mundo, os povos indígenas são os maiores especialistas no assunto, e já faz muitos anos que nos alertam sobre o fim de um mundo tal qual o conhecemos.

    Não poderia retomar o curso, no meio da maior pandemia que já vivemos, sem voltar àqueles palavras do Ailton Krenak. Sinto que já não podemos adiar algumas reflexões e conversas francas. Há um trecho naquela palestra de Salvador que o Ailton comenta sobre a educação das crianças. Recomendo a escuta deste fragmento de 11 minutos (2:15:00 – 2:26:00): https://www.facebook.com/watch/?v=119400642687358

    Esse pequeno trecho inspira alguns argumentos que reorganizam o per-curso da disciplina Sociologia da Educação na Pandemia Covid-19 em 2020.

    1. O fenômeno educacional é o processo pela qual um determinado coletivo introduz um outro grupo de pessoas (geralmente mais novas) num mundo que lhe antecede ou que lhe é estrangeiro. Mas toda processo educacional é também a fabricação de um mundo.
    2. As causas da Pandemia Covid-19 evidenciam a relação que insistimos em negar entre o modo de vida da nossa civilização (branca, ocidental, racista, heteropatriarcal, antropocêntrica, extrativista, capitalista…) e a emergência das novas crises socioambientais, zoonoses na escala planetária e mudanças climáticas irreversíveis.
    3. Nossa educação (em termos socioculturais e epistêmicos) produz genericamente uma forma de vida não consequente, não implicada, não responsável pelos seus efeitos no mundo. Temos dificuldade em reconhecer e assumir coletivamente as relações de causalidade entre nosso modo de vida e os problemas que estamos produzindo. Ademais, abunda em nossa sociedade uma vasta indiferença pelo sofrimento e pela vida do outro.
    4. Do ponto de vista educacional devemos reconhecer, portanto, que aquilo que é ensinado às crianças sobre o nosso mundo é uma farsa. O quê e como ensinar? Como reproduzir um modo de vida que coloca em risco sua própria existência no planeta? É essa a constatação do Ailton Krenak ao narrar a luta socioambiental do movimento internacional de crianças e jovens. Elas estão dizendo que nossos governos não cumprem seus compromissos, que os adultos não assumem a responsabilidade pelo futuro do mundo em que as crianças viverão, e os empresários não se interessam pela sustentação da vida intergeracional.

    O campo da Sociologia da Educação tem como principal centro problemático a relação entre a reprodução e a mudança social: em que medida e sob que condições (processos, instituições, culturas, políticas, classes etc) o fenômeno educacional reproduz a sociedade que o engrenda e/ou cria possibilidades de mudanças. No percurso dessa disciplina pretendemos olhar para essa tensão sob alguns recortes específicos. Porém, sempre partindo dessa constatação desagradável e urgente. Não podemos mais adiar as perguntas difíceis. Desejamos habitar o acontecimento covid-19 naquilo que ele nos inspira a nos responsabilizarmos pelo mundo que criamos. Como pensar a educação numa perspectiva crítica e para além do antropoceno/capitaloceno? Como imaginar e criar outras mundos que escapem da \”nova normalidade\” que guarda outras pandemias porvir?

    Sobre o curso (início 5 de agosto): vespertino 15hs; noturmo 19hs.

    Programa e recursos: https://pt.wikiversity.org/wiki/Sociologia_da_Educa%C3%A7%C3%A3o_na_Pandemia_Covid-19

    Canal de difusão no Telegram: https://t.me/socioeduca2020

  • retomadas: ciências terranas & tecnopoliticas & fabulações

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    Conversações Febris – 13 de agosto, quinta-feira, as 19hs – LINK pra SALA.

    Passadas algumas semanas de nosso ultimo encontro, queremos retomar a conversa para organizarmos um novo ciclo de atividades da Zona de Contagio a partir de agosto. As agendas já estão sendo engolidas pelo trabalho e demandas da vida. Urge sinalizar alguns horizontes de confluências pra que possamos abrir espaço para novos encontros.

    Seguindo a disponibilidade inicial, pensamos em manter as quintas-feiras (19hs `as 21hs) como um momento de encontro para a realização de atividades e produções coletivas (conversações febris, entrevistas; produção audiovisual, podcast, leituras e estudos coletivos etc). Um período reservado para respirarmos juntos, trocarmos experiências e também experimentarmos outras linguagens na criação e produção de conhecimento. 

    Seguiremos investigando as questões que emergiram e que ganharam consistência em nosso percurso do semestre anterior; tramando nas encruzilhadas entre as ciências dos dispositivos e as ciências das retomadas. Nossa investigação também implica numa meta-investigação sobre as formas de pesquisa e coprodução de conhecimentos [uma síntese do percurso pode ser consultada aqui]

    A Zona de Contágio pode se fazer como um experimento (um protótipo) de uma de rede de pesquisa entre as muitas experiências com que estamos implicadas; uma zona de confluência temporária entre as investigações e fazeres com que cada um aqui esta envolvido. Imaginar, inventar, conectar outros fazeres (ensino, pesquisa e extensão),  modos de produção de conhecimento, ciências e tecnologias, alianças entre espaços educacionais formais e não formais, experimentações de linguagens, transbordamentos e produções contra-disciplinares.

    Se os regimes hegemônicos de produção de conhecimento, ciência e tecnológica e a configurações atuais de suas instituições (universidades e escolas) são parte do problema que hoje enfrentamos (crise ambiental, covid-19, as muitas formas de reprodução do colonialismo, racismo e desigualdades); quais seriam então os desenhos possíveis de outros modos de conhecer (e suas instituições) que apontem para rotas de fuga do capitaloceno e das formas renovadas de dominação e exploração? Que tipo de conhecimento somos capazes de produzir na contramão do \”realismo político\” e das novas estratégias de controle? Onde aterrissar?

    Para o próximo encontro (13 de agosto – 19hs) sugerimos uma experimentação especulativa na abertura de novos possíveis: Conversações Febris – 13 de agosto, quinta-feira, as 19hs – LINK pra SALA

    *O que pode ser uma universidade terrana no tempo das catástrofes?

    *O que pode ser uma aula?

    Até lá receberemos materiais audiovisuais, textos, fotografias, audios que possam contribuir para inaugurar esse novo ciclo de conversas. Os materiais podem ser publicados diretamente como comentários neste post ou enviados para o email conspire [arroba] tramadora.net

    Os CEOS das grandes corporações de TI nos dizem hoje que a sala de aula “perdeu o sentido” e que as relações educacionais podem ser muito mais eficientes quando inteiramente mediadas pelas plataformas digitais, já que trata-se de produzir e fazer movimentar o “capital humano”. Edufactory cibernética, a redução de formas de conhecimento em “produção e gestão de conteúdo”. No entanto, desejamos fazer outras perguntas, contar outras histórias. É preciso abrir uma conversa epocal sobre o que significa uma aula, quais os sentidos da presença no que se refere à produção de conhecimento e da ciência e os sentidos fortes da experiência e do encontro que atravessam as formas de criação e de conhecimento – para além das disputas pelas grandes Verdades. Qual é o papel da universidade e dos espaços de educação informal como zonas de sinérgicas de pensamento-luta, diante da corrosão absoluta dos sentidos democráticos que vivemos hoje? Como podemos nos apropriar de outras tecnicidades que intensifiquem a experiência ao invés de neutralizá-las?

    ***

    Sugerimos dois textos de inspiração para essa conversação febril:

    TORNAR-SE SELVAGEM, Texto de Jerá Guarani

    ONDE ATERRAR? Texto de Bruno Latour

    ***

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