Category: laboratorio

  • Bordas, confluências, conversações: percursos de uma investigação companheira

    Após lançarmos uma convocatória para pessoas interessadas em integrar um percurso coletivo de investigação sobre o acontecimento Covid_19, realizamos uma primeiro movimento de aproximação entre nós. Criamos uma lista de email; fizemos um encontro virtual entre os que haviam se inscrito na lista para conversar a partir de um texto, trocar experiências e algumas expectativas e convidamos as pessoas a reagirem às algumas proposições na forma de um produção livre que foi compartilhada no site da Zona de Contágio.

    >> Para quem quiser ainda embarcar na investigação coletiva como praticante, mande um email para: conspire [@rrob@] tramadora.net

    >> Para quem quiser apenas acompanhar o processo temos: lista de telegram: https://t.me/tramadora ; instagram: https://www.instagram.com/tramadora_lab/; Facebook: https://www.facebook.com/corpocontagio/ ; twitter: https://twitter.com/_tramadora

    Quando pensamos numa prática de laboratório partimos de algumas referências que informam o desenho e as práticas desse laborátório. Ele não é uma noção abstrata ou indeterminada. Referimo-nos a uma certa arquitetura, uma ética-política, uma prática experimental, uma perspectiva ontoepistêmica: uma ciência implicada de uma pesquisa-luta. Elementos esses que esperamos explorar nesse percurso investigativo.

    Diante do que experienciamos nessa última semana, a partir da momento em que a Zona de Contágio foi ativada pela presença e participação de muitos de vocês, consideramos importante olhar para o que emergiu e tramar os próximos passos dessa investigação. O momento nos convoca a indicar algumas delimitações para a investigação e também a sugerir alguns protocolos para nossa cooperação. Essa mensagem está dividida em 3 tópicos:

    1. Bordas e confluências de um percurso de pesquisa – onde indicamos as questões gerais da pesquisa e indicamos um próximo passo de perguntas e atividades para a pesquisa. 

      2. Conversões febris – sugestão de bibliografia para o próximo encontro no dia 7 de maio, as 19:00hs. 

      3. Protocolo Investigativista: ensaio de um conjunto de princípios e acordos pra organizar as formas de participação e as condições de colaboração.


    1. Bordas e confluências de um percurso de pesquisa

    Todas nós estamos aqui por algo que nos toca; quase todas estamos também já inseridas em percursos de investigação. Carregamos experiências, corpos e desejos singulares, heterogêneos. O desafio do laboratório é constituir uma composição entre singularidades apontando, entretanto, para algumas zonas de confluência comum para que assim possamos, de fato, experimentar um encontro – uma ciência-dança de contato e improvisação. Para dar consistência a essas zonas de confluência sugerimos algumas ações temáticas nas quais podemos pensar juntas, investigar, nos fazer melhores perguntas. 

    De forma simples: propomos rodadas investigativas em torno de problemas comuns. A produção do material a cada rodada será um cruzamento entre experiências, percepções localizadas, intuições sobre o mundo no qual estamos implicadas em uma conversa com reflexões trazidas por textos e outros pensamentos. Ao fim de cada rodada, poderemos então visualizar a constelação de novos problemas que surgem, novas pistas, outras encruzilhadas. 

    A Zona de Contágio se constitui a partir de duas tramas de investigação: Ciência dos dispositivos; Ciência de Retomada.

    Por um lado, gostaríamos de praticar uma \”ciência dos dispositivos\” atenta aos rastros das formas de poder e como ele organiza nossas vidas; dispositivos de desempenho, controle, biovigilância; os arranjos e mediações sociotécnicas que conduzem nossas condutas. Os dispositivos de governo que prometem nos \”salvar\” de nós mesmos e de nos livrar da possibilidade de pensarmos juntos o que fazer com as nossas vidas e corpos. Uma ciência dos dispositivos parte da constatação de que o poder não está dando ordens desde os lugares mais espetaculares e evidentes, mas ele, sobretudo,  está \”fazendo funcionar\”: os corpos, desejos, as formas de nos relacionar. Aqui podemos pensar sobre a expansão do \”capitalismo de plataforma\” no acontecimento-Covid; das tecnologias educacionais aos inúmeros dispositivos que organizam nossas cidades, a circulação de mercadorias e alimentos; pensar quem são os teletrabalhadores, os circuitos do \”cognitariado\”, os intercâmbios entre ideias de \”livre iniciativa\” e \”empreendedorismo\” com os discursos da economia de \”startup\” e de \”inovação\”; a maneira reticular como as tecnologias digitais compõem e organizam a vida ordinária, contrabandeando e alimentando um racionalidade econômica e uma ordem política.

    Na mesma trama, também queremos praticar uma \”ciência da retomada\”:  \” É precisamente porque nossos corpos são os novos enclaves do biopoder e nossos apartamentos as novas células da biovigilância é que se torna mais urgente do que nunca inventar novas estratégias de emancipação cognitiva e resistência e lançar novos processos antagônicos. Ao contrário do que se possa imaginar, nossa saúde não virá da imposição de fronteiras ou separação, mas de um novo entendimento da comunidade com todos os seres vivos, de um novo equilíbrio com outros seres vivos do planeta.\”

    Uma ciência de retomada pensa pelos saberes que nos foram expropriados. Como emerge nesse interstício e suspensão do mundo a percepção do Comum sequestrado – o que é (e pode ser) \”saúde coletiva\” e como essa \”volta ao corpo\” nos faz pensar sobre um mundo que já estava antes saturado por muitos lugares de asfixia? Como respirar juntos novamente?  Um ciência que pense sobre o que pode ser retomado, tecnologias menores que potencialize nossa capacidade de agir e sentir o mundo vivo; formas não proprietárias, reapropriação das formas de reprodução da vida – da casa à infraestrutura urbana. Uma ciência que sustente formas de vida não-fascista e que investigue novos problemas porque não se contenta em apenas responder os problemas que nos colocam.

    \”Si lo vemos bien, la biopolítica nunca ha tenido otro propósito: garantizar que nunca se constituyan mundos, técnicas, dramatizaciones compartidas, magias, en el seno de las cuales la crisis de la presencia pueda ser vencida, asumida, pueda devenir un centro de energía, una máquina de guerra\”.


    Proposição:  Nessa rodada, a zona de confluência investigativa se dará em torno da experiência temporal e dos sentidos da presença.


    Queremos olhar para a ambiguidade presente no acontecimento Covid19 entre a suspensão do tempo, um respiro (a paragem brusca da qual falou Latour aqui: https://bit.ly/2SltcU4) e, por outro lado, uma experiência de tempo acelerado, asfixia, produzida pelos novos dispositivos de produtividade, desempenho, mobilização permanente. As fronteiras entre vida, prazer, trabalho encontram-se esfumaçadas. O tempo da domesticidade, aliás, é caracterizado pelo embaralhamento dessas fronteiras; os novos dispositivos do teletrabalho atuam também diante da nossa culpa civilizacional de experimentar o tempo livre; precisamos nos mostrar produtivos, disponíveis, enquanto as tecnologias digitais ampliam a mensurabilidade, o controle e a mobilização total de nossas vidas. A oferta ampla de entretenimento virtual parece querer nos salvar do desconforto do tempo suspenso e da catástrofe que estamos vivendo: \”Tenemos que escoger si queremos seguir siendo un terminal del algoritmo de la vida que organiza el mundo o bien un interruptor de la pesadilla que nos envuelve\”. O que significa \”parar\”? O que significa não poder parar, nunca? \” los lentos son perdedores!\”.

    Como pensar a rivalidade entre desempenho e experiência, conexão e relação, sacrifícios individuais e o prazer do encontro como imagem da luta de classes no capitalismo contemporâneo?

    Para essa primeira rodada, sugerimos também a companhia dos dois textos da próxima Conversação Febril (a seguir).

    Novamente, sugerimos que o material seja publicado como \”comentário\” no post do site: https://www.tramadora.net/?p=1823   até o dia 7 de maio.  Sugerimos o movimento de ler com atenção aos comentários de outras praticantes, talvez algo te convoque para novos lugares, talvez haja o desejo de comentar, iniciar uma conversa.

    2. Conversações Febris: 7 de maio de 2020, conexão 19:00hs
    *Amador Fernandez-Savater: La pesadilla de un mundo en red: https://rebelion.org/la-pesadilla-de-un-mundo-en-red/ 

    *Ailton Krenak: Do tempo: https://n-1edicoes.org/038

    3. Protocolo Investigativista (PIA)

    Nessa experimentação, o próprio desenho do laboratório (infraestruturas, protocolos, métodos, documentos, artefatos etc) é parte da investigação. Encontrar a melhor forma de caminhar junto, de habitar problemas comuns e constituir um coletivo que sustente uma prática no tempo, exige muita mediação, cuidados, práticas e conhecimentos, uma verdadeira arte do pharmakon. Como evitar as práticas de pesquisa que convertem a participação em mecanismos de captura e extração? Como lidar com as armadilhas dos dispositivos autorais, sua economia e as divisões do trabalho que ela engendra? Como lidar com os regimes de propriedade, acesso e posse do conhecimento produzido? Muitos aqui estão habituados às iniciativas de colaboração, no campo científico ou artístico e sabem que essas perguntas não são triviais. A experiência indica que um boa estratégia para enfrentá-las é evitar os princípios abstratos e verificar na prática, caso a caso e de forma situada, qual é o desenho dos protocolos que desejamos estabelecer. Este protocolo de pesquisa coletiva também almeja atacar o problema de identidade e de fronteira que delimitam a Zona de Contágio: como evitar o fechamento identitário e bloquear a chegada do novo? Como manter a continuidade, o acúmulo das experiências, o reconhecimento e as mutualidades? Novamente, estamos diante de um problema das composições e pertencimentos, ligas e alianças. O Laboratório, nesse sentido, é também um experimento de uma tecnologia social de pertencimento. Desejamos conversar sobre este tema e vamos abrir uma página wiki pra edição colaborativa desse protocolo. Vamos publicar uma versão 1.0 e enviaremos outra mensagem com o link.

  • remar juntas

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    @emineyilmazn

    Remar juntos é partilhar, partilhar alguma coisa, fora de qualquer lei, de qualquer contrato, de qualquer instituição. 

    Carxs praticantes,

    Partimos de algumas inquietações iniciais e problemas com os quais nos sentimos implicadxs nesse momento. Escrevemos alguns parágrafos na forma de uma proposição-convocatória para abrir a hipótese de uma Zona de Contágio. Como algumas pessoas não leram ainda o material recolocamos abaixo os links:

    1. https://www.tramadora.net/2020/03/25/laboratorio-zona-de-contagio/

    2. https://www.tramadora.net/2020/04/07/conspiremos-um-convite-para-um-experimento-coletivo-de-investigacao/

    A proposta é simples: iniciar uma conversação entre todxs, uma prática investigativa coletiva, a partir da situação limite que estamos habitando.

    Para entrar nesse barco basta mandar um email para: conspire@tramadora.net

    Contornando a saturação filosófica e os grandes esquemas conceituais que interpelam o acontecimento-Covid-19, queremos habitá-lo em sua dimensão experiencial, tecnomediada e que finalmente conecta velhas e novas tecnologias de domesticação e desempenho (da casa aos dispositivos que oferecem distração, praticidade e eficiência em um ambiente cada vez mais vigiado e controlado no qual se busca a todo custo bloquear a experiência como também todo o acontecimento).

    Queremos praticar uma ciência de contato  – ainda que seja desde o isolamento – e que atue na produção, sempre parcial e precária, de práticas e conhecimentos sobre questões que implicam a todos. Outras perguntas irão surgir no percurso. Desviar das rotas planejadas é sempre um sintoma de boa saúde para uma ciência de risco. Inventar novas e melhores perguntas que produzam uma comunidade de praticantes interessadxs em experimentá-las. O próprio desenho do laboratório e seu modo de pesquisar são problemas que fazem parte da nossa investigação.

    Como seguir juntxs em tempos de pandemia? Como fazer de nossa vulnerabilidade o risco comum de uma dupla condição: uma política da experimentação e uma prática (onto)epistêmica corporificada, situada e que possa retomar nossa inteligência coletiva relacional de viver graças aos outros, de pensar graças aos outros. Nos importa pensar quem somos o \”nós\” contingencial desse percurso investigativo. Convidamos a uma prática para iniciar a conversa e experimentar sustentá-la por algum tempo (dois ou três meses?), atentos ao percurso, suas aberturas e possíveis desdobramentos.

    Movimento 1: apresentação, interação assincrônica, criação e compartilhamento

    Como cada um de nós é forçado a pensar pelo acontecimento covid-19? Como esse acontecimento dispara novos problemas, entendimentos e experiências e criações intuições? 


     “Essa experimentação é política, pois não se trata de fazer com que as coisas “melhorem”, e sim de experimentar em um meio que sabemos estar saturado de armadilhas, de alternativas infernais, de impossibilidades elaboradas tanto pelo Estado como pelo capitalismo. A luta política aqui, porém, não passa por operações de representação, e sim, antes, por produção de repercussões, pela constituição de “caixas de ressonância” tais que o que ocorre com alguns leve os outros a pensar e agir, mas também que o que alguns realizam, aprendem, fazem existir, se torne outros tantos recursos e possibilidades experimentais para os outros. Cada êxito, por mais precário que seja, tem sua importância” (I. Stengers).

    Para nos apresentarmos, sugerimos agora que cada um compartilhe, de alguma forma, o modo pelo qual está habitando essa encruzilhada:  um breve texto, fotografias, áudios, vídeos, performances. Um formato simples o suficiente para não produzir a sensação de \”mais uma tarefa\”; o prazer nos parece um bom indicador para essa breve produção. 

    Aqui podemos falar, a partir das nossas vidas e pesquisas, ou das duas coisas entrelaçadas, sobre os fios do provável ( de como sentimos, intuimos ou entrevemos a reorganização dos poderes tecnototalitários e dos dispositivos reordenadores da vida); e também sobre os fios do possível ( de como sentimos, intuimos ou entrevemos as formas de cooperação, novos acordos coletivos, a luta contra as normalizações dos excessos e pelas muitas formas de recusa). O material poderá ser enviado até o dia 22 de abril.


    *Neste post (logo abaixo) você pode escrever usando a área de comentários e adicionar um arquivo de mídia: https://www.tramadora.net/?p=1772

    Sua postagem se tornará pública para outrxs pessoas que por lá passarem também.

    *Arquivos muito pesados (acima de 64MB) podem ser enviados para este pasta (coloque seu nome nos arquivos): https://owncloud.labjor.unicamp.br/index.php/s/wL1jywTR6Nel0H5


    Movimento 2: Ciclo de estudos insurgentes

    Um encontro virtual, quinta-feira, dia 23 de abril das 19hs às 21hs, para conversarmos a partir de um texto que inspira nosso laboratório. Livro \”No Tempo das Catástrofes\”, cap.16, de Isabelle Stengers. Disponível aqui: https://www.tramadora.net/wp-content/uploads/2020/04/stengers-tempo-catastrofe-cap16.pdf

    Um dia antes enviaremos o link para o ambiente virtual. Teremos alguns convidadxs pra disparar a conversa entre nós. Podemos combinar referências ao texto com o momento atual em diálogo com nossas produções/investigações (movimento 1).

    Respiração diafragmática. Sem angústias ou ansiedade produtiva. A ideia é produzirmos um encontro entre praticantes de mundo em suspensão. 


    Até breve! 

  • Conspiremos! Um convite para um experimento coletivo de investigação

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    \”Conspirar quer dizer respirar junto.

    E é disso que somos acusados.\”


    Com o acontecimento COVID-19, o Laboratório Zona de Contágio instaura-se como um dispositivo de pesquisa coletiva e experimentação. Se o fortalecimento de governos tecno-autoritários já era uma ameaça à vida comum, a intrusão viral potencializa a disseminação de uma cultura imunitária e securitária de contornos fascistas no tecido da própria vida social. Tudo é risco.

    Estamos lançando uma investigação coletiva que se proponha a pensar agora pelos cortes que fazem atravessar corpos, a casa, o risco da respiração compartilhada, os novos arranjos da biovigilância, as tecnopolíticas de gestão do normal e do que excede. O poder é logístico, está por todos os lados. Por isso, uma ciência de risco precisa dar atenção aos \”agenciamentos que geram transformações metamórficas em nossa capacidade de afetar e sermos afetados – e também de sentir, pensar e imaginar\”.


    Disparamos perguntas que nos implicam com o acontecimento covid-19.


    Pensar porque estamos obrigados, potencialmente infectados e febris. Diante dos intensos fluxos filosóficos, da saturação metafísica, semiótica, informacional, gostaríamos de propor uma desaceleração do pensamento; uma respiração diafragmática. Uma ciência de risco é objetora de tudo que nos envenenou: produtividade, crescimento, competição, originalidade, os grandes esquemas conceituais. Uma ciência de risco é aquela que habita as encruzilhadas e as práticas de permanecer um pouco mais com a confusão.

    Como primeiro movimento de um percurso incerto e aberto de investigação coletiva, desejamos criar conversas com praticantes que se sintam afetados por essas questões.  Seja a partir de uma criação qualquer (texto, fotografias, áudios, vídeos, performances) compartilhada entre nós, ou de um fio investigativo que possamos juntos rastrear: os fios do provável (a reorganização dos poderes tecnototalitários e dos dispositivos reordenadores da vida); os fios do possível (as formas de cooperação, novos acordos coletivos, a luta contra as normalizações dos excessos e pelas muitas formas de recusa). Uma ciência menor que atua  com a experimentação e a invenção de uma linguagem comum, pelos sentidos que dão passagem a uma experiência singular e coletiva.

    Atenção às infraestruturas mínimas da vida coletiva que adquirem visibilidade e urgência – a metrópole é um grande dispositivo de renuncia sobre nossas próprias vidas. Como a vida na cidade e na casa é percebida no interior desse acontecimento? O que estamos fazendo das nossas vidas?

    Rastrear os pequenos gestos, as formas de recusa nada épicas, os imperativos do desempenho que descem pelo ralo enquanto temos que dar conta da louça acumulada antes da próxima reunião online. Como nossa vida é agora interpelada pela lógica da produção e do fazer, pela culpa do contato ou do isolamento, como imaginam nossas resistências e invenções cotidianos para existir? Precárixs. Lançadas em uma correnteza de indeterminação; atentas para os modos diferenciais de tornar algumas vidas dignas de serem protegidas e outras não. Nossos corpos como infraestrutura invisível que sustenta toda a ficção do \”homem livre empreendedor\”. Para não \”voltar ao normal!\”; Para retomar a insistência da vida não a qualquer custo – mas uma vida que possa criar movimentos de abertura, uma que desliza e escapa de suas estabilidades e antigos compromissos, aquela que aposta nos riscos dos encontros.

    Rastrear as decisões logísticas e tecnológicas que prometem \”segurança\”, \”saúde\” e \”bem-estar\”, \”praticidade\” e \”desempenho\” a despeito da nossa incapacidade de cuidarmos de nós mesmos; a despeito da nossa incapacidade de sustentar outras saídas. Assumir nossas vulnerabilidades compartilhadas. Como esse acontecimento nos releva os arranjos em que estamos enredados? Podemos habitar de outra forma a cidade, o mundo, a terra – não como \”cidadãos\”, mas como criaturas?

    Somos convocados a oferecer provas de um bom comportamento como soldados de uma guerra que não é nossa. Interpeladas cotidianamente por dispositivo de mobilização de corpos e boas condutas. Alternativamente, quais são as novas alianças que estamos criando e que desejamos ainda criar? Uma ciência de risco é sempre uma ciência que hesita, uma ciência de retomada de uma inteligência coletiva e que funciona apesar e contra os chamamentos da nação, da pátria ou da grande Ciência e seus regimes de autoridade e verdade.

    Protótipo 1 – como criar uma conversação em tempos de pandemia?

    Explicações de um mundo \”real\”, assim, não dependem da lógica da \”descoberta\”, mas de uma relação social de \”conversa\” carregada de poder.

    Neste primeiro movimento a idéia é que possamos nos relacionar através de nossas criações, formas de expressão sobre o experienciado, fragmentos coletados do mundo, situações vividas, sentidas, relatos, hesitações – sejam seus ou não. 

    Se você deseja entrar nesse barco, envie um email (tecnologia de desaceleração) para: conspire@tramadora.net

    Criamos um canal de transmissão no Telegram onde iremos proliferar os caminhos da pesquisa: https://t.me/tramadora

    Há também uma página no Facebook: https://www.facebook.com/corpocontagio

    Além do processo investigativo, realizaremos um ciclo de estudos insurgentes. Encontros virtuais para discussão de algum texto ou conversarmos com algumx convidadx. O primeiro encontro será dia 23/04, quinta-feira, a partir das 19:30hs, numa plataforma de videoconf [link com a programação será divulgado em breve]

    Sobre: Zona de Contágio é uma iniciativa de confluências, um híbrido do coletivo Tramadora, Projeto Laboratório do Comum do Pimentalab/Unifesp, Lavits.

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    obra de: Regina Parra

  • Lab_ Zona de Contágio

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    Laroiê!

    salve o mensageiro!

    \”Nós, que pensamos em “ideologia”, somos vulneráveis. Nós não possuímos os saberes pertinentes para identificar e compreender os dispositivos de captura e de produção de impotência. Ora, lá onde se pensa que os feiticeiros existem, aprende-se a reconhecê-los, a diagnosticar seus procedimentos, a se proteger deles, e ainda a contra-atacar\” (I.Stengers). 

    Zona de Contágio é um laboratório situado, prática coletiva de uma ciência do contato implicada em habitar a pandemia COVID-19 como um acontecimento: \”um acontecimento está no interior da existência e das estratégias que o perpassam\”. Ele surge como uma plataforma de convergência entre pesquisadorxs-ativistas cujo trabalho de investigação viu-se forçado a pensar com a intrusão viral. Uma encruzilhada.

    O vírus é a entidade estrangeira que fala pelo nosso corpo, através dele, de sua vulnerabilidade e estupidez. Fala que nossas noções de “política” e de “progresso” ou “civilização” são débeis, inócuas. Faz com que sintamos a febre da Gaia Criatura como resposta imunológica às simplificações ecológicas e biológicas produzidas pelos modos extrativistas que seguem fazendo deserto sem nome do “crescimento econômico”, “desenvolvimento”; que seguem produzindo muros, cercas, desejo de segurança e separação. 

    O medo da contaminação como forma de governo das vidas sempre foi a principal bio-tecnologia colonial,  atualizada pelos regimes autoritários modernos. Tecnologias de vigilância são convocadas ao controle epidemológico; pessoas tomadas por um desejo de segurança profilática passam a “denunciar” outras pessoas que precisam fazer qualquer coisa na rua porque, às vezes, não se tem muitas opções. Outras começam a professar o “Estado Forte” como forma de contenção – como se não nos bastasse a força do que já temos. Fala-se em “Guerra”, mas é importante responder: queremos a restituição da vida em sua possibilidade erótica, não somos os seus soldados!

    Estamos na encruzilhada Hobbes x Espinosa; o Estado e a hipótese do Comum!  O momento em que desejamos que o Estado tome medidas de exceção de controle populacional em nome da segurança sanitária, é o momento em que renunciamos à nossa potência de cuidado da saúde coletiva. Seremos capazes de construir alternativas com nossa inteligência coletiva? Como ativar o Comum, a potência de produção da saúde entre todos, promovendo vínculos solidários de cuidado coletivo? Como infraestruturar as estratégias, dispositivos, tecnologias, diferenças, práticas e conhecimentos que possam dar lugar a essas formas de vida?

    A natureza do poder se modificou de tal forma que hoje confunde-se com a própria vida. Está na paisagem da cidade e suas infraestruturas, nas centenas de dispositivos que conduzem nossa atenção, localização, nas catracas, na produção dos desejos e das frustrações; nas centenas de outros dispositivos que nos conduzem à novas formas de desempenho; novas formas de concorrência.

    Os arranjos sociotécnicos ao mesmo tempo vigiam e controlam toda possibilidade de fuga com outros inúmeros dispositivos de neutralização preventiva. A algoritmização da vida bloqueia qualquer possibilidade de imprevisto, de acontecimento e abertura. O poder se organiza de forma imanente à vida e sua expressão de exterioridade é apenas uma expressão performativa e mais visível dele – ainda que nos pareça mais confortável imaginar que o Poder está lá, sentado em uma cadeira. \”Uma perspectiva revolucionária já não tem a  ver com a reorganização institucional da sociedade, mas com a configuração técnica dos mundos\”. Na metrópole, assinala o Conselho Noturno (2019), o que encaramos não é mais o velho poder que dá ordens, o poder que localiza-se desde uma exterioridade, mas uma forma de poder que logrou constituir-se como a ordem mesmo desse mundo. \”A metrópole é o simulacro territorial efetivo de um mapa sem relação com nenhum território\”

    Diante da crise de presença alimentada por inúmeros dispositivos de produção de corpos neoliberalizados, Zona de Contágio convida ao diálogo praticantes que desejam tensionar as modernas e habituais fronteiras entre ciência e política; entre corpos e pensamento. Assumir nossa debilidade existencial como ponto de partida para pensar os deslocamentos do político. Pensar a nossa crise de presença como condição epocal seria também investigar os diversos dispositivos que a produzem, mas, por outro lado, experimentar como reativar “uma maior atenção ao devir da presença dos entes” no mundo vivo; retomar nossa capacidade de “co-pertencimento e co-produção a cada situação vivida”; encontros. Ciência de contato. Saber qual território habitamos, qual é a terra que pisamos quando falamos \”cidade\”, quais as relações que a constituem, quais são os saberes desautorizados, os saberes sujeitados, os saberes das lutas que desejamos convocar? Uma ciência objetora de tudo que nos envenenou: produtividade, crescimento, competição, originalidade. Uma ciência de combate que acontece entre corpos e suas diferenças.

    Com o acontecimento COVID-19, o Laboratório Zona de Contágio instaura-se como um dispositivo de pesquisa e intervenção na medida em que a produção coletiva de conhecimento sobre as atuais possibilidades de fabricação de uma vida não-fascista torna-se urgente. Se o fortalecimento de governos autoritários já era uma ameaça à vida comum, a intrusão viral potencializa a disseminação de uma cultura imunitária e securitária de contornos fascistas no tecido da própria vida social.

    A crise é maior, é total. Ela nos faz pensar muito concretamente sobre que vida estamos vivendo, qual vida queremos viver  – o vírus, como intruso, fabrica uma das maiores bifurcações da história: a vida tomada como forma securitizada, protegida, entretida, mobilizada para destruir “inimigos”; mas do outro lado, a vida em seu excesso, como forma erótica de habitar o mundo que não queremos perder; uma vida febril que sabe que a liberdade é também interdependência, risco, confusão, travessias. Exu.

  • Investig(ações) insurgentes: corpos-sensores por uma política experimental da presença

    Ciclo \”Habitar as Fronteiras\” no Centro de Pesquisa e Formação do SESC-SP. Dias 7 e 14 de abril de 2020.

    Diante da debilidade existencial intensificada por inúmeros dispositivos de produção de uma vida neoliberal, os encontros convidam ao diálogo pesquisadorxs-praticantes que tencionam as habituais fronteiras entre ciência e luta, vida e política. Assumir a nossa crise da presença como condição de uma vulnerabilidade compartilhada para investigar os diversos dispositivos que a produzem, mas também experimentar como reativar \”uma maior atenção ao devir da presença dos entes\” no mundo vivo; retomar nossa capacidade de \”co-pertencimento e co-produção a cada situação vivida\”.

    Partimos de experiências investigativas em que saberes e práticas de lutas emergem de corpos como sensores; formas de vida que sentem, percebem e enunciam, a partir de sua singularidade os diversos dispositivos de erosão do mundo Comum. São também essas experiências que resistem e inventam formas de vida não proprietárias, não securitárias e que intuem que é o movimento de abertura ao acontecimento o que pode sustentar práticas coletivas de insistência na vida como interdependência: tecnologias de aquilombamento, retomadas indígenas, ocupações, as experiências de travessia do corpo-trans, tecnologias de cuidado, territórios do comum e saberes ancestrais/tradicionais, laboratórios cidadãos.

    07/04, terça-feira, das 19h00 às 21h30 – Encontro com Bru Pereira – antropóloga e educadora, mestre em Ciências Sociais pela UNIFESP; Edson Teles – professor de filosofia na UNIFESP; Maria Fernanda Novo – doutora em filosofia pela UNICAMP. Mediação de Jean Tible – professor de Ciência Política (FFLCH/USP).

    14/04 (terça-feira), das 19h00 às 21h30 – Oficina com Alana Moraes – antropóloga, doutoranda pela UFRJ e Henrique Parra – professor de Ciências Sociais da UNIFESP. Pesquisadores do Pimentalab/LAVITS e do coletivo Tramadora.

    Oficina: ao adotar a gestão de crise como técnica de governo, o capital não se limitou apenas a substituir o culto ao progresso pela chantagem da catástrofe, ele quis reservar para si a inteligência estratégica do presente\” (C.I). A oficina é um convite para habitar por um pouco mais de tempo os problemas comuns que nos obrigam a pensar juntos. Inspirados na ideia de um \”parlamento de corpos\” queremos retomar a inteligência compartilhada e a potência da situação presente. O parlamento emergente de corpos afetados se instaura a partir de formas de conhecer que possam transformar (narrar/inventar/mediar) a experiencia de um corpo-sensor em um conhecimento de luta coletiva dos corpos vivos, que nada tem a ver com a produção de maiorias ou consensos. A oficina convida os participantes a investigar o problema da crise da presença diante da crescente mediação técnica da vida social e as consequentes alterações do regime de sensibilidade que sustentam ou destroem um mundo comum. Diante da multiplicidade de dispositivos tecnológicos que fazem da vida uma sequencia prevista de condutas, procedimentos e desempenhos funcionais, praticamos uma atenção àquilo que o corpo não aguenta mais, como ponto de partida da construção de formas de vida não fascistas.

    ***

    corpo-como-sensor é uma proposição ético-política da vida em sua ontologia corpórea extremamente vulnerável, um terreno de travessias e cruzamentos no qual a representação dá lugar à experimentação, à variação e ao risco dos encontros. Em há um mundo por vir? (2015), Viveiros de Castro e Débora Danowski se perguntam quem seria o demos de Gaia, “o povo que se sente reunido e convocado por essa entidade, e quem é seu inimigo” (2015:120). Para os autores, não se trata mais de buscarmos um “sujeito revolucionário”, mas seguir uma etnopolítica que suspenda a própria noção de \”sujeito capaz de agir como um só povo\”.

    Diante da crise de presença alimentada por inúmeros dispositivos de produção de uma vida neoliberal, o seminário convida ao diálogo praticantes que tensionam as habituais fronteiras entre ciência e política, entre natureza e cultura. Nesse sentido, pensar a nossa crise de presença como condição epocal seria também investigar os diversos dispositivos que a produzem, mas, por outro lado, experimentar como reativar \”uma maior atenção ao devir da presença dos entes\” no mundo vivo; retomar nossa capacidade de \”co-pertencimento e co-produção a cada situação vivida\”. Partimos de investigações em que saberes e práticas emergem de corpos-como-sensores; formas de vida que sentem, percebem e enunciam, a partir de sua singularidade os diversos dispositivos de erosão do mundo Comum. São também essas experiências que resistem e inventam formas de vida não proprietárias, não securitárias, experiências que intuem que é o movimento de abertura e composição com o acontecimento de encontros o que pode sustentar práticas de insistência na vida em interdependência: tecnologias de aquilombamento, retomadas indígenas, ocupações, as experiências de travessia do corpo-trans, tecnologias de cuidado, territórios do comum e saberes ancestrais/tradicionais, laboratórios cidadãos.

    Habitar uma política do sintoma que não nos permite \”interpretar\” tendo em vista um lugar seguro do diagnóstico que contorne ou neutralize o mal-estar.. Nessa condição de precariedade de um mundo sem refúgio, a invenção de linguagens, sentidos compartilhados, infraestruturas e tecnologias de suporte à essas formas de vida é inseparável de uma prática experimental de composições de alianças e arranjos sociotécnicos que dão forma a outras individuações coletivas, a emergentes comunidades de afetados. Trata-se de escapar dos imperativos de resultado e impacto, reino da estratégia e da eficiência tecnocrática, para habitarmos um terreno de experimentações de composições sempre situadas, que funcionem como caixas de ressonância de formas de vida não-fascista.

  • Oficina – Idéias para Adiar o Fim do Mundo

    Disputando os rumos das tecnologias e da sociedade: o Comum e formas de luta

    com Alana Moraes e Henrique Parra

    Tramadora/Pimentalab/LAVITS

    Programação Completa:

    Slides Apresentados:

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  • Encontro Tecnopolíticas, Territórios e Direitos Humanos

    Laboratório Tático do Comum – LabTaCo

    Casa do Povo – 10 de dezembro, das 10h às 18h

    O evento será a primeira de uma série de atividades realizadas pelo coletivo Intervozes com o objetivo de construir o Laboratório Tático do Comum – LabTaCo, um laboratório itinerante para a produção de comunicação e tecnologias abertas em diversos territórios. Neste primeiro encontro, queremos conhecer as experiências de quem já botou o seu bloco na rua. Vamos conversar sobre as potências e dificuldades de cada experiência, a fim de apontar os caminhos e obstáculos para essa construção.

    PROGRAMAÇÃO

    10h – INTERVOZES – Boas vindas e apresentação inicial do projeto Laboratório Tático do Comum.
    10h15 – COLETIVO ETINERÂNCIAS – Gabriel Kieling e Raissa Capasso: Histórias de um laboratório itinerante de tecnologias sociais, digitais e ancestrais.
    11h – CINEMÃO – Cid Brandão: Cinema nas comunidades, dificuldades e transformações do acesso ao cinema.
    11h45 – HACKLAB e ÔNIBUS HACKER – Lívia Ascava – Tecnologia e democracia.
    12h30 – COLETIVO SANGA – Luiza Gianesella e Daniel Assumpção: Tecnoarte para educação criativa e democrática.

    13h15 – Almoço Coletivo e bate papo

    15h – INSTITUTO PRÓ COMUM – Rodrigo Savazoni: O Comum na Encruzilhada – a experiência de construção de um laboratório cidadão na Bacia do Mercado em Santos –SP.
    15h45 – TRAMADORA – Alana Moraes e Henrique Parra: Protótipo, experimentação, política do meio.
    16h30 – COMISSÃO GUARANI YVYRUPA – Wera Alexandre Guarani e Marcelo Hotimsky: O uso de mídias e a comunicação guarani.
    17h15 – Bate papo de encerramento

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  • Corpo/Cuidado/Luta

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    Corpo-Conspira
    Nós outr s presentes

    Estamos convocando um encontro público para falar compartilhar práticas de corpo/cuidado/luta. Fazeres que partem da vulnerabilidade, da inteligência, da potência dos corpos e da presença coletiva. Nos cuidar. Experimentar outras formas de presença. Honrar os problemas dos quais ainda não conhecemos soluções. Conspirar. O que pode um corpo? O que significa resistir? Como honrar nossas precariedades corpóreas e fazer delas matéria de novos vínculos? Nos implicar; Lutas; Formas de vida; Comum.

    – O que você/seu coletivo(a) faz para se manter inteira(o)?
    – Qual é o problema não resolvido de que você/sua coletiva(o) mais gosta?
    – Do que precisa uma vizinhança para (sobre)vivermos em comum?

    A ideia é reunir praticantes de clínicas, cuidados, cultivos, curas, danças, combates, coletivos que entendam suas práticas como formas de luta e de produção de conhecimento e que queiram compartilhar problemas, afinidades, conspirar e começar a articular uma vizinhança. >>

    A iniciativa nasce de debates e encontros do Urucum pesquisa-luta.

    Terça-feira, 19 de setembro às 19:00

    Casa do Povo: Rua Três Rios, 252, Bom Retiro, São Paulo

  • Experimentações em Pesquisa-Luta

    fonte: post da Alana no FB:

    \”Nos momentos de neblina, o pensamento precisa saber criar novas formas. Formas capazes de produzir outros modos de enxergar; criar territórios existenciais atravessados pelo pensamento-luta, pelas lutas que fazem funcionar existências dissidentes e profundamente relacionais, corpóreas, atentas. Pensamento implicado. Não existem atalhos no caminho, estamos obrigados à experimentar.

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